CPMI do 8/1: bolsonaristas tentam desvincular bomba em aeroporto de atos golpistas

Diário Carioca

A participação de George Washington de Oliveira Sousa – um dos acusados de planejar atentado a bomba no aeroporto de Brasília – na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro nesta quinta (22) foi marcada por dois fatores: silêncio em relação à maioria das perguntas e a tentativa de parlamentares da oposição bolsonarista em desvincular o acontecido com os eventos de 8 de janeiro. 

Durante a sessão, um dos argumentos da oposição foi novamente acusar o atual governo de omissão no dia 8 de janeiro. Esse argumento foi rebatido pelo deputado Pastor Henrique Vieira (Psol-RJ) como “bizarro”. 

“Reconhece um contexto evolutivo de golpe, mas coloca maior ênfase em uma suposta omissão. É a tentativa do absurdo se passar por normal”, diz Vieira. 

A oposição defendeu a tese de que não há relação entre a tentativa de explodir o aeroporto com o acampamento onde se reuniram os bolsonaristas responsáveis pelos atos golpistas de 8 de janeiro.

Parlamentares oposicionistas tentaram desvincular todos os eventos, apesar do contexto de extremismo, argumentando que não há ligações diretas com Jair Bolsonaro. “Não existe cronologia ou tentativa de golpe, houve essa coincidência maldita”, disse o deputado Marcos Feliciano (PL- SP).

‘Terrorista’

Sousa se encontra preso, tendo sido condenado em primeira instância. Por conta disso, participou da CPMI como investigado, e não como testemunha. Uma das poucas respostas fornecidas foi relacionada à depredação ocorrida em novembro de 2022 em Brasília. Segundo ele, no momento dos fatos, estava em uma churrascaria. 

“O silêncio do investigado gera decepção generalizada. Ele não tentou algo contra o agente político que ele combate. Ele tentou covardemente ceifar a vida de dezenas ou centenas de brasileiros”, lamentou Arthur Maia (União Brasil-BA). O presidente da CPMI ainda comparou o depoente com “vermes que se escondem no esgoto”: “O senhor é um criminoso. Sinceramente, o senhor envergonha esse país, a sociedade brasileira, sua família”, complementou. 

Após questionamentos de diversos parlamentares, Sousa finalmente reagiu a uma pergunta da senadora Ana Paula Lobato (PSB-MA) a respeito de sua família. Neste momento, passou a dar respostas ambíguas sobre seu envolvimento com o caso – não negando diretamente sua participação no caso e reconhecendo que frequentava o acampamento em frente ao Quartel Geral do Exército. 

“Sou casado há 33 anos. Tenho dois filhos. Um deles exige cuidados especiais. Eu não seria louco de colocar um artefato explosivo em cima de um caminhão. Esse artefato não tinha poder de explosão”, disse. Depois de mais uma sequência de silêncios, reagiu mais uma vez a um questionamento de Jandira Feghali (PC do B-RJ): “Não, não me considero um terrorista”.

Frequentou acampamento e até levou armas

Antes da participação de Sousa,  policiais – um delegado e dois peritos – que participaram da investigação referente à sua prisão na véspera de Natal participaram da CPMI como testemunhas. Os integrantes da Polícia Civil do Distrito Federal afirmaram que o escopo da investigação era determinar os autores da tentativa de atentado e as circunstâncias do crime. Diversos pontos questionados pelos parlamentares, segundo eles, ainda são investigados em outros inquéritos abertos e atualmente em sigilo. 

O delegado Leonardo de Castro reiterou os termos do depoimento de Sousa, que alegou ter tentado realizar a explosão para impedir o comunismo do Brasil, de acordo com o que entendia ser a vontade de Jair Bolsonaro (PL).

De outro lado, foi objetivo ao afirmar que, no inquérito específico, não foi detectado nenhum contato direto com autoridades bolsonaristas.

Um elemento em comum, entretanto, foi verificado: o acampamento em frente ao Quartel-General do Exército. Sousa frequentou o local, assim como manifestantes do dia 8 de Janeiro. Ele inclusive transportou armas que pretendia distribuir a presentes no acampamento. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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