De retorno de utopias a combate ao capital, ativistas populares debatem meio ambiente

Diário Carioca

Um renomado economista equatoriano. Uma líder comunitária. Uma ícone feminista da América Latina e dois pesos pesados dos movimentos populares do Brasil. O que levaria pessoas tão ímpares a se reunirem (ainda que virtualmente) durante um dos debates propostos pelo Fórum Popular da Natureza? Muitas coisas, como se pôde constatar no encontro transmitido ao vivo na manhã da última sexta-feira (5). 

O evento, que acontece até o dia 10 de junho, tem como objetivo, antes de tudo, proporcionar o diálogo entre lideranças de áreas aparentemente distintas. 

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Na manhã da sexta, o debate foi entre Alberto Acosta, economista e ex-ministro equatoriano (que antes da gestão de Rafael Correa, mudou de lado e tornou-se adversário); Débora Rodrigues, líder comunitária e membro da direção da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG); e a boliviana Julieta Paredes, feminista comunitária, cantora e escritora. Na intermediação do encontro, Gilmar Mauro, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e Carmen Silva, referência no país quando se trata da luta por moradia.

Entre os temas abordados, parte do eixo economia e natureza, passaram pela importância dos movimentos populares na luta contra as incursões conservadoras de Jair Bolsonaro, racismo estrutural e as novas conjunturas políticas que assolam, em especial, a América Latina. Como pano de fundo, os efeitos da pandemia do coronavírus.

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Alberto Acosta salientou a responsabilidade do capitalismo  no agravamento da crise atual. “Esta realidade de destruição do planeta é o resultado de uma lógica de acumulação permanente, de acumulação de bens materiais. Consumismo, produtivismo e individualismo, que explica porque tanta gente está sendo vítima do coronavírus. O individualismo é a verdadeira enfermidade do mundo”, pontuou. 

Julieta Paredes complementou ao reafirmar que a pandemia é também resultado do descaso humano com o meio ambiente. “Este tempo é um tempo em que os corações e a vida nos levantam para o ressurgimento das utopias. Somente com a permissão da ‘Mãe Natureza’ conseguiremos superar este momento tão difícil que estamos passando”. 

Para Gilmar Mauro, o capital financeiro também tem papel decisivo na destruição do planeta. “Não tem como propor qualquer luta sem romper com essa lógica ditada pelo capital financeiro. Isso só faz aumentar o papel da reforma agrária que altere todo o modelo de produção, ligado à alimentação e à ecologia”. 

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Racismo x solidariedade

Débora levou o debate para o tema do racismo estrutural, que mata a população negra diariamente. Ela citou a morte do menino Miguel (que caiu de um prédio por negligência de uma mulher rica e branca) – e criticou posturas “desprezíveis” como a do presidente da República. “O governo brasileiro amplia os impactos das políticas neoliberais, retira direitos que lutamos tantos para conquistar e agora teremos que nos ressignificar para nos reerguermos”.

Especialista em economia solidária, Débora também reforça o papel das mulheres negras no combate à pandemia. “Sem estas mulheres tão fortes, que lutam para manter as suas comunidades, os efeitos dos desmontes promovidos por Bolsonaro seriam ainda maiores”. 

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Carmen, que coordena o Movimento dos Sem Teto do Centro, em São Paulo, e tem feito o papel do estado ao promover auxílio a milhares de famílias da capital durante a pandemia, acredita que a luta contra os retrocessos passa necessariamente pelo movimentos populares. “Todas as vezes que tem uma mazela, são sempre os movimentos populares que se organizam e se mobilizam para conseguir ajudar quem mais precisa”, finalizou. 

Edição: Vivian Fernandes


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