Diretor do Instituto Brasil-Israel critica uso de camiseta com bandeira de Israel durante votação de Michelle Bolsonaro

JR Vital
Primeira-dama Michelle Bolsonaro vota em Ceilândia, Distrito Federal - Foto: reprodução

Neste domingo de Eleição, a primeira-dama Michelle Bolsonaro compareceu às urnas vestida com uma camiseta estampando a bandeira de Israel. Para Daniel Douek, diretor do Instituto Brasil-Israel (IBI), “ao votar vestindo uma camiseta com a bandeira de Israel, a primeira-dama conclui o papel que vem exercendo na campanha do marido de transformar o ato político da escolha de um candidato em uma missão essencialmente religiosa”.

Mais do que isso, ressalta Douek, “o símbolo não representa nem traduz a similaridade de valores entre os dois países, ainda mais quando questões antidemocráticas estão em jogo”.

Primeira-dama Michelle Bolsonaro vota em Ceilândia, Distrito Federal - Foto: reprodução
Primeira-dama Michelle Bolsonaro vota em Ceilândia, Distrito Federal – Foto: reprodução

Desde sua primeira campanha eleitoral para presidente, Jair Bolsonaro utilizava do símbolo de Israel para associar sua imagem ao conservadorismo , o que, para o diretor do IBI, “já surpreende, uma vez que o país do Oriente Médio adota medidas mais progressistas no campo dos costumes, como acesso ao aborto, proteção de direitos a pessoas LGBTs e o controle rígido de armamentos. Trata-se de um local cosmopolita, abriga uma das maiores paradas gays do mundo, lidera na aplicação medicinal de cannabis, já descriminalizou a posse de maconha, tem uma legislação bastante flexível sobre o aborto, ou seja, pensamentos totalmente contraditórios aos do presidente Bolsonaro”.

Para além da tentativa de mostrar similaridade inexistente em alguns temas, Douek também destaca que o costume de uso da bandeira de Israel cria confusões entre judeus e apoiadores de Bolsonaro. “A comunidade judaica brasileira possui cerca de 120 mil pessoas e é plural. Existe judeu rico e judeu pobre, judeu branco e judeu negro, judeu de direita e judeu de esquerda. O uso da bandeira de Israel, assim, tem menos a ver com a comunidade judaica do que com apoiadores evangélicos do presidente, pelo lugar que o país ocupa em sua doutrina religiosa”.

A tese é reforçada por Michel Gherman, historiador e assessor acadêmico do IBI, coordenador do Niej (Nucleo de Estudos Judaicos da UFRJ) e autor do livro “O não judeu judeu, a tentativa de colonização do judaísmo pelo bolsonarismo”. Para ele, “trata-se de uma Israel imaginária esta que o Bolsonarismo cultua, a Israel armada, branca, cristã fundamentalista e ultra-capitalista. É uma Israel que se estabeleça como barreira contra a expansão do Oriente e que seja vista com uma gramática profundamente vinculada à ausência do judeu de verdade, que é múltiplo, diverso, contraditório, que vota na direita mas também na esquerda exercendo a mais ampla democracia”, destaca Gherman

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Por JR Vital
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JR Vital é jornalista e editor do Diário Carioca. Formado no Rio de Janeiro, pela faculdade de jornalismo Pinheiro Guimarães, atua desde 2007, tendo passado por grandes redações.