Em Cachoeira do Piriá, o garimpo ocupa até as casas, mas só semeia pobreza, doença e mortes

Diário Carioca

Cachoeira do Piriá no Estado do Pará é um município que respira garimpo. Respira, bebe e come através da utilização de mercúrio na garimpagem de ouro dentro da área urbana, que  se confunde com a área rural pois o estilo de vida é o mesmo. As criações de porcos, galinhas caipiras e patos, assim como as hortas que crescem nos quintais das casas, usam a água que vem dos córregos ou igarapés e compartilham a terra utilizada na garimpagem. O mercúrio também é encontrado na criação desses e nas hortaliças cultivadas.   

É o preço que cobra a economia local, que vive da venda, da troca e da exportação do ouro, e às vezes é usado até para as pequenas compras da semana. Nas ruas, é normal encontrar pessoas com pepitas ou resíduos de ouro em envelopes dobrados de papel grosso. Um grama custa de R$230,00 a R$270,00 e pode até chegar a R$300,00 dependendo de quem faz o câmbio do minério. Mas, apesar de viver em torno do ouro, Cachoeira do Piriá é uma cidade pobre com um IDH (índice de desenvolvimento humano) baixíssimo de apenas 0,473 de acordo com o PNUD.

Muitos pontos de garimpo pertencem a políticos de Cachoeira de Piriá, como a ex-prefeita de Bete Bessa do PMDB, conhecida como Bete do Garimpo, dona de um dos maiores pontos de extração de ouro. Ao redor da cidade, predominam os poços menores de até cem metros de profundidade. Com uma abertura de 1,60 por 1,60 metro, parecem poços de água no quintal das casas de interior. Nas transversais dos poços, abrem-se corredores subterrâneos, as galerias. Para descer, o garimpeiro precisa usar um assento feito de couro de pneu amarrado em um cabo de aço, como se fosse um rapel. Não há segurança na descida como constatei ao descer 32 metros pelo cabo para fotografar. Os acidentes são recorrentes.

O transporte diário de dinamite em bicicletas, carros e motocicletas também é outro perigo normalizado na cidade. O manuseio é sem fiscalização, assim como a venda. Você compra, corta a dinamite ao meio, enterra metade na parede que pretende abrir a galeria, fixa os fios elétricos desencapados na meia dinamite, sobe pelo cabo de aço e aperta o interruptor ou toca ambos fios desencapados criando a faísca elétrica para a explosão. Muita gente já perdeu a vida assim. 

Daniel, de 21 anos, trabalha em garimpos desde os 17. Ele conta que iniciou na garimpagem em cima, como eles dizem, e há 2 anos trabalha na abertura das galerias. Já encontrou mais de um quilo de ouro, mas não ficou rico; continua como trabalhador braçal. O garimpo só compensa para os donos dos poços. Para quem arrisca a vida nos debaixo da terra ou se contamina com o mercúrio, o destino é a pobreza e a morte.

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca