Em defesa da vida, povos de terreiro lançam manifesto “Fora Bolsonaro e Mourão”

Diário Carioca

O documento é assinado por mais de mil entidades do movimento negro, comunidades de terreiros e lideranças religiosas e denuncia o recorrentes discursos de ódio e racistas do capitão da reserva e a ausência de políticas sanitárias em plena pandemia causada pelo vírus da covid-19 pelo governo Bolsonaro. De acordo com o manifesto, é justamente a população negra e pobre do país a mais vulnerável diante da crise.

As entidades também denunciam a conivência com assassinatos de jovens negros e periféricos e os ataques constantes à cultura e à religião, inclusive, pelo atual presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo.

“Nós de tradição de matriz Africana, macumbeiras/os de esquerda, temos a obrigação de nos posicionarmos em relação ao caos político, econômico, ético e moral instalado em nosso país. Não podemos mais nos calar diante das agressões promovidas por um Presidente movido pelo ódio e desejo de morte”, diz o texto, que considera que o “Fora Bolsonaro e Mourão é o único meio de nos proteger para continuarmos avançando em busca de uma sociedade sem racismo”.

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O manifesto foi lançado transmissão ao vivo pelas redes sociais do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST) e contou com um debate sobre a atual conjuntura e os impactos na vida, na religião e na cultura da população negra brasileira.

“Não podemos nos silenciar neste momento, que é um dos momentos mais trágicos que vivemos na história de nosso país. Um país que foi edificado o sangue dos nossos ancestrais, o sangue dos indígenas, por isso nós chamamos esse encontro e nós construímos esse manifesto”, disse a coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB), Makota Celinha, uma das organizadoras da ação.

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Também entre os participantes estavam Val Santos, do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), Nilma Lino, pedagoga e professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sônia Guajajara da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e João Pedro Stedile da direção nacional do MST.

“Não é somente por causa do vírus que estão morrendo milhares de pessoas aqui no Brasil, nós estamos morrendo por causa dessa necropolítica, então nós precisamos juntos fortalecer todas as lutas e vozes coletivas que nesse momento se expressam pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Nós precisamos também romper com tantas outras situações crônicas como o modelo econômico atual, totalmente opressor predatório e centralizador”, declarou Sônia.

“Faz todo o sentido o povo de terreiro, nesse momento, se juntar aos povos indígenas, ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra e juntos a gente fortalecer os nossos modos de vida, os nossos modos de produção por mais justiça e por mais liberdade, e que nunca mais nenhum tambor seja silenciado, nenhum indígena seja queimado e que todos os nossos ecossistemas sejam preservados.”

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A pedagoga e professora emérita da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilma Lino, também endossou a articulação das lutas emancipatórias do povo negro, indígena e camponês a partir da “dor que os une” para o que deve ser uma defesa de uma “democracia radical”. Durante o governo da presidenta Dilma Rousseff (PT), ela foi ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, extinta pelo governo Bolsonaro.

“Uma democracia radical é aquela que é anticapitalista, antirracista, antipatriarcal, antilgbtfóbica, antineoliberal e anti-fascista, nós temos que nós unificar e esse manifesto eu acho que o que ele anuncia é a ideia de que a gente pode ser unir numa democracia radial, derrubando aqueles que desde que assumiram tem negado a própria democracia que nós construímos”, expressou Nilma.

Para os movimentos populares, que compõe a frente, a saída é pela porta da classe trabalhadora e da maioria do povo, que está também expressa no manifesto. Esta porta é um projeto pós-capitalista, que começa com a derrubada do governo.

“Um projeto que estabeleça a igualdade entre todos os brasileiros que vivem do seu trabalho. Para nós debatermos e construirmos esse projeto pós-crise, como está sinalizado no manifesto, que vocês estão lançando hoje, o primeiro passo é trocar o governo. Portanto, Fora Bolsonaro é uma condição de sobrevivência do povo brasileiro, se nós não derrubarmos esse governo nós podemos chegar a 100 mil mortos”, reiterou Stedile.

A resistência a este “governo da morte”, foi puxada pela jornalista e coordenadora nacional do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (CENARAB), Makota Celinha, que celebrou também um ano do 1º Encontro das Religiões de Matriz Africana em Belo Horizonte, Minas Gerais.

“Cabe a cada um de nós da tradição de matriz africana, iluminados pelos nossos ancestrais construir um cenário imediatamente que nos impulsione a ir mais longe. Pra mim esse cenário é o da luta contra esse necrogoverno, pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Nós precisamos construir esse amalgama das pessoas de bem, porque o silêncio dos bons nós levaram a morte. Nós precisamos tocar esses tambores e acabe e rompa essa esfera de morte que nós estamos nesse momento. Nossa identidade ancestral é o que nos unificará nesse momento”, convocou ela.

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O manifesto segue aberto para assinaturas e participação, depois se transformará em um pedido de impeachment do presidente entregue ao Congresso Nacional. Já existem mais de 28 processos de impedimento acumulados no legislativo.

Leia a íntegra do manifesto neste link.

Edição: Rodrigo Chagas

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