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domingo, novembro 24, 2024

Ex-comandante da Polícia Militar afirma que expansão das UPPs foi feita de forma irresponsável

PolíticaEx-comandante da Polícia Militar afirma que expansão das UPPs foi feita de forma irresponsável

Para o coronel da Polícia Militar Ubiratan Ângelo, ex-comandante-geral da instituição entre 2007 e 2008, houve uma expansão irresponsável das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Esta teria sido, em sua análise, a grande causa do fracasso do programa. O coronel afirmou que a polícia só tinha capacidade para atuar em 19 unidades, mas foram instaladas 38 UPPs. As afirmações aconteceram durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) que investiga a situação das UPPs, nesta terça-feira (17/04).

“A ideia do programa é muito boa, mas precisava de um planejamento melhor. As UPPs necessitam de um grande investimento em logística e pessoal. Na realidade, os gestores públicos aumentaram o policiamento das comunidades e os batalhões ficaram com pouco efetivo. Todos os novos agentes foram lotados imediatamente nas UPPs, que chegou a contar com dez mil policiais. Com isso, a malha urbana ficou descoberta, os roubos aumentaram e o interior ficou sem policiamento”, afirmou Ubiratan.

O coronel também ressaltou a falta de infraestrutura para os policiais que atuam nas UPPs. “Com a grande quantidade de unidades, ficou clara a falta de infraestrutura das UPPs. Os policiais ficaram descobertos, trabalhando em contêineres e sem a logística necessária. Muitos agentes vieram do interior do estado e não tinham tanto conhecimento dos problemas da capital, além de não terem o prestígio que possuem em suas cidades. Os criminosos aproveitaram as fraquezas e voltaram a atuar nas comunidades”, disse.

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O presidente da CPI, deputado Bruno Dauaire (PRP), afirma que o programa foi administrado de forma eleitoreira. “As UPPs acabaram se tornando uma bandeira de governo eleitoreira. Além de representar interesses de empresas e imobiliárias. Foi nítida a expansão do programa durante os períodos de eleições”, destacou o parlamentar.

Retrospectiva

O coronel Ubiratan ainda destacou que as UPPs não funcionam em grandes comunidades, como o Alemão e a Rocinha. “Esse tipo de atuação em massa só dá certo em comunidades de pequeno e médio porte, que estejam localizadas em áreas isoladas, como o Morro Dona Marta. Por terem vários acessos e distintas áreas, favelas como o Alemão e a Rocinha precisam de outras estratégias. Não adianta a polícia entrar em massa, porque os criminosos conseguem atuar em outros pontos da localidade com facilidade”, afirmou.

Ele também afirmou que a ideia de policiamento comunitário já é antiga no Rio. “Esse tipo de atuação existe desde 1993, quando a polícia ocupou o Morro da Providência. Novamente só deu certo em pequenas comunidades. Quando tentaram ocupar, no início dos anos 2000, a Vila Cruzeiro, o resultado foi desastroso”.

Falta de autonomia policial

O coronel, que atualmente é coordenador de segurança pública da ONG Viva Rio, afirmou que a Polícia Militar nunca teve autonomia para administrar as UPPs. “As ordens chegavam da Secretaria de Estado de Segurança. Não posso afirmar quem ordenava. Mas a Polícia Militar, que é amplamente criticada, nunca teve autonomia para decidir. Pelo contrário, sempre alertei que o programa não poderia avançar de forma irresponsável e em grandes favelas”, concluiu Ubiratan. Também estiveram presentes na reunião os deputados Zaqueu Teixeira (PSD), Tia Ju (PRB) e Paulo Ramos e Martha Rocha, os dois do PDT.

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