Guardas civis invadem Centro de Referência para mulheres e ameaçam ocupação em Mauá (SP)

Diário Carioca
               Na semana do Dia Internacional de Luta das Mulheres, uma Casa de Referência que acolhe mulheres em situação de violência em Mauá (SP) foi invadida por Guardas Civis Municipais (GCM), sem ordem judicial. A incursão das forças estatais aconteceu no último sábado (5) e pegou de surpresa uma moradora da casa, que se abriga ali com seus cinco filhos.  
A Casa de Mulheres Helenira Preta 2, no bairro Vila Mercedes, é uma ocupação organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário desde 25 de julho de 2021.  
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“É um espaço onde a gente atende mulheres em situação de violência com trabalho profissional de voluntários”, explica Amanda Bispo, coordenadora do Movimento de Mulheres Olga Benário e da Casa Helenira Preta. 
“Também é um espaço de reivindicação de políticas públicas para crianças, pois Mauá é uma cidade em que há três mil crianças sem creche”, complementa. 
Ocupação
No dia seguinte, domingo (6), a GCM esteve em um terreno recém ocupado por famílias que perderam suas casas por conta das chuvas e deslizamentos de terra que aconteceram no início do ano. 


De acordo com o MLB, o terreno ocupado não cumpre função social há uma década / Jornal A Verdade

Localizada no bairro Jardim Estrela, a comunidade, batizada de Ocupação Desabrigados pela Chuva Antônio Conselheiro, é organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).  
Segundo o movimento, o terreno estava abandonado há 10 anos e a sua ocupação visa diminuir um déficit habitacional de 32 mil famílias “que moram de aluguel, de favor ou em áreas de risco” no município.  
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De acordo com Bispo, o MLB é um “movimento irmão” da organização de Mulheres Olga Benário. Em sua avaliação, a ação da GCM na Casa de Referência foi “uma resposta política à ocupação do MLB”.  
“Eles [os guardas civis] invadiram a Casa de Mulheres Helenira Preta enquanto acontecia uma reunião de negociação do movimento de moradia com a prefeitura”, conta. 
A negociação com o poder municipal, sob gestão de Marcelo Oliveira (PT), no entanto, segue inconclusa. De acordo com o MLB, nesta terça (8), a GCM “voltou a hostilizar a ocupação”. 
A prefeitura de Mauá foi procurada por telefone e e-mail, mas não mandou um posicionamento até o fechamento da matéria.  
Solidariedade 
Em nota, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se solidarizou com ambos os movimentos que estão “sob ameaça de despejo ilegal pela prefeitura”: “Essas lutas são legítimas e têm do apoio do povo de Mauá”. 
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“Despejo já é um ato de violência contra quem luta por terra ou moradia digna. Mas fazer despejo agora não é só um ato de violência contra a classe trabalhadora. Despejo em pandemia é crime, é um ato ilegal, de acordo com decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)”, discorre o comunicado.  
O MST afirmou esperar que “a prefeitura de Mauá inicie efetiva negociação” para evitar despejos e salientou que “atacar um espaço que realiza atividades para mulheres às vésperas das comemorações do 8 de março é um gravíssimo erro e uma atitude condenável”. 
            Edição: Rebeca Cavalcante


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