24.2 C
Rio de Janeiro
domingo, novembro 24, 2024

Justiça determina reativação de bases de proteção contra garimpeiros na TI Yanomami

PolíticaJustiça determina reativação de bases de proteção contra garimpeiros na TI Yanomami

O Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) determinou a reativação de Bases de Proteção Etnoambiental (BAPEs) na Terra Indígena (TI) Yanomami, no estado de Roraima, como medida de combate ao avanço da epidemia do novo coronavírus. A decisão foi tomada na quarta-feira (17).

A região, que registra a presença de povos isolados, é assolada pela ação de mais de 20 mil garimpeiros ilegais e já alcançou 44 casos confirmados e três óbitos decorrentes da covid-19, segundo levantamento realizado pela Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana.

:: RS tem 80 indígenas com coronavírus, a maioria foi contaminada em frigoríficos da JBS ::

- Advertisement -

A decisão, a cargo da desembargadora federal Daniele Maranhão, leva em conta a inércia para proteção dos indígenas dos entes responsáveis – União, estado de Roraima e Fundação Nacional do Índio (Funai). Além da reativação das bases de proteção, a determinação prevê ações de fiscalização e repressão ao garimpo ilegal.

Segundo a desembargadora, a falta de ações contra a mineração ilegal na região “evidencia necessária atenção redobrada para evitar a disseminação de epidemias virais e outras moléstias decorrentes da contaminação de rios e fauna com mercúrio, (…) situação que se agrava pelo atual contexto de pandemia pelo qual passa o país”.

:: Primeiro indígena aldeado a morrer por covid-19 é de área próxima a garimpo ilegal ::

A ação determina que União e a Funai apresentem, em até 60 dias, um plano de restabelecimento de três Bases de Proteção Etnoambiental (BAPEs) na TI Yanomami e que, após a apresentação desse plano, a reativação das bases, com estrutura e pessoal necessário, seja realizada em 120 dias.

O estado de Roraima, por sua vez, deve disponibilizar força policial para auxiliar nas atividades de fiscalização e repressão ao garimpo ilegal. As partes demandadas devem, também, comprovar bimestralmente o cumprimento de plano operacional de reativação das BAPEs na Terra Indígena.

No recurso, o procurador da República Alisson Marugal adverte para o cenário de violação sistemática e histórica de direitos dos povos da Terra Indígena Yanomami, vítimas da omissão estatal na contenção de garimpeiros, desde a década de 1970. Reconhece ainda a severidade do caso, tendo em vista o risco de dizimação ou genocídio de grupos isolados, como os Moxihatëtëa.

:: Covid-19: “Estamos com medo de ser dizimados”, diz Tupinambá Nice Gonçalves ::

“O panorama fático atual torna mais urgente a providência ora pleiteada: sem a devida proteção territorial e submetida à invasão de milhares de garimpeiros, a Terra Indígena Yanomami é ainda mais vulnerável à pandemia de covid-19, deixando os povos que ali habitam em constante risco de uma repentina aceleração descontrolada da infecção, sem a necessária proteção epidemiológica, em especial os povos isolados, estes expostos a um risco concreto de genocídio”, argumenta o procurador.

Para o procurador regional da República Ubiratan Cazetta, que atuou no caso na segunda instância, a decisão representa a garantia de uma mínima proteção sanitária condizente com a necessidade do povo Yanomami. “Trata-se do único povo indígena que foi, oficialmente, vítima de genocídio nos anos 90. Permitir a invasão de garimpeiros é permitir um novo genocídio”, comentou o procurador regional.

Edição: Vivian Fernandes


Check out our other content

Check out other tags:

Most Popular Articles