O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, nesta segunda-feira, 29/5, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para uma reunião bilateral no Palácio do Planalto, em Brasília, e concedeu na sequência uma declaração à imprensa e uma entrevista coletiva. Segundo Lula, o encontro marca a retomada das relações diplomáticas e de amizade com o país vizinho.
A América do Sul precisa trabalhar como um bloco pra resolver seus problemas. Estamos há 500 anos lidando com a pobreza. Se a gente estiver junto, somos quase 450 milhões de pessoas, PIB de quase 4 trilhões de dólares”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
Depois de oito anos, o presidente Maduro volta a visitar o Brasil e recuperamos o direito de fazer políticas internacionais com seriedade, sobretudo com países vizinhos ao Brasil”, disse Lula. “É difícil conceber que tenham passado tantos anos sem que mantivéssemos diálogo com um país amazônico e vizinho com o qual compartilhamos uma extensa fronteira de 2,2 mil km”.
Para o presidente do Brasil, um dos principais objetivos é recuperar o patamar comercial entre os dois países, que hoje caiu para menos de um terço do total registrado em 2013.
“A gente tinha uma relação comercial que teve fluxo de praticamente US$ 6,6 bilhões e hoje tem pouco menos de US$ 2 bilhões. Isso é ruim para a Venezuela e é ruim para o Brasil”, relembrou.
PORTAS ABERTAS – Em seu pronunciamento, Maduro agradeceu pelo que chamou de oportunidade histórica para ambos os países na retomada das relações diplomáticas. “Quero agradecer toda a atenção, recepção fraterna e solidária que recebemos no Brasil. Tivemos uma longa e proveitosa conversa com o presidente Lula”, disse.
“Hoje começa uma nova etapa na relação entre os nossos países, entre nossos povos, para a construção de um novo mapa de cooperação, de trabalho conjunto, que abarque todas as áreas da economia, comércio, educação, saúde, cultura, agricultura”.
Maduro destacou as mais de 900 sanções econômicas contra seu país, adotadas pelos Estados Unidos e União Europeia, que forçaram uma transformação na economia venezuelana. “A Venezuela passou de uma arrecadação anual de US$ 56 bilhões por causa do petróleo para US$ 700 milhões. Essa situação nos levou a um modelo de recuperação econômica de guerra para voltarmos ao crescimento econômico. Ano passado, crescemos 15%, com uma economia na maior parte não dependente do petróleo pela primeira vez em 120 anos”, revelou.
INTEGRAÇÃO ENERGÉTICA – Os presidentes de Brasil e Venezuela manifestaram interesse em retomar o fornecimento de energia produzida em território venezuelano para o estado brasileiro de Roraima. A ideia é reativar o Linhão de Guri, desativado em 2019 após desavenças entre o governo anterior e o país vizinho.
“Nós queremos recuperar a relação energética com a Venezuela. Aquele Linhão de Guri tem que ser colocado em funcionamento porque não justifica Roraima ser o único estado fora da matriz energética brasileira funcionando na base da termelétrica”, explicou Lula.
ENCONTRO DE PRESIDENTES – A reunião bilateral entre Lula e Maduro precedeu o encontro que acontecerá nesta terça-feira, 30/5, no Palácio Itamaraty. Representantes dos 12 países sul-americanos – 11 presidentes e um enviado do governo do Peru – estarão presentes para discutir uma retomada das relações multilaterais dentro do continente.
“A América do Sul precisa trabalhar como um bloco pra resolver seus problemas. Estamos há 500 anos lidando com a pobreza. Se a gente estiver junto, somos quase 450 milhões de pessoas, PIB de quase 4 trilhões de dólares. Se a gente não quiser olhar para a União Europeia, podemos olhar para União Africana, que coopera há muitos anos”, exemplificou Lula.
“Queremos uma América do Sul unida em sua diversidade. Não podemos deixar que as ideologias excludentes, intolerantes, tomem conta. Que todos estejamos unidos, que se imponha a cultura do diálogo”, completou Maduro.
Estão previstos no encontro desta terça os presidentes Alberto Fernández (Argentina), Luís Arce (Bolívia), Gabriel Boric (Chile), Gustavo Petro (Colômbia), Guillermo Lasso (Equador), Irfaan Ali (Guiana), Mário Abdo Benítez (Paraguai), Chan Santokhi (Suriname), Luís Lacalle Pou (Uruguai) e Nicolás Maduro (Venezuela). A atual presidente do Peru, Dina Boluarte, será representada pelo presidente do Conselho de Ministros, Alberto Otárola