Antonio Torres del Cerro.
Paris, 16 nov (EFE).- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acredita que o atual mandatário, Jair Bolsonaro, está “destruindo o país”, lamentou que o Brasil tenha deixado de ser “a menina dos olhos de muita gente” para se tornar “uma coisa feia” e pregou a reconstrução por meio de eleições democráticas e “sem fake news”.
Em Paris, no auditório da renomada universidade Sciencies Po, Lula discursou nesta terça-feira para cerca de mil estudantes, muitos deles brasileiros, em uma palestra intitulada “Qual o lugar do Brasil no mundo de amanhã?”, por ocasião do décimo aniversário do título de Doutor Honoris Causa concedido a ele pela instituição.
“Nunca imaginei que, depois da Constituição de 1988 e do fim do regime militar, a gente fosse eleger presidente uma figura como Bolsonaro. Jamais imaginei que a gente fosse eleger alguém tão negacionista, que não quer aprender as coisas, que diz que não entende de política social, de educação, de saúde. Alguém que tenta vender remédio que não presta para a pandemia”, declarou.
Lula, que nos últimos dias afirmou que só vai decidir em fevereiro ou março se vai concorrer ou não à presidência em 2022, disse na palestra que Bolsonaro “está destruindo o país”, e deu um recado ao público que o ouvia.
“Vocês se preparem, porque não vão ficar em Paris por muito tempo. Precisamos de vocês para reconstruir o país”, disse.
O ex-presidente comentou que “nunca tinha visto tanta gente passando fome no Brasil” como agora e pediu aos estudantes para que não deixem de votar nas eleições de 2022.
Lula aproveitou o discurso para criticar os processos do qual foi alvo, com ataques ao ex-ministro e ex-juiz federal Sergio Moro, e opinou que a imagem internacional do Brasil piorou nos últimos cinco anos, desde o impeachment de sua sucessora, Dilma Rousseff.
“O Brasil era a menina dos olhos de muita gente, de tanto que queriam investir no país, e agora se transformou em uma coisa feia na qual ninguém acredita, e em reuniões internacionais o cumprimentam por educação, sem olhar nos olhos”, declarou.
Para Lula, “uma nova inserção do Brasil no cenário mundial passa, necessariamente, pela reconstrução do país, num processo de eleições democráticas e verdadeiramente livres, sem fake news, diferentemente do que ocorreu em 2018”.
Além de criticar Bolsonaro, o petista criticou o ministro da Economia, Paulo Guedes.
“Guedes destrói nações, mente ainda mais do que o Bolsonaro (…) Por isso teremos muito, muito trabalho, mais do que da primeira vez”, afirmou, em relação ao início de seu primeiro mandato, em 2003.
REUNIÃO COM MACRON.
Em seu longo discurso, com tons eleitorais, o ex-presidente afirmou que a política “não se aprende na Sciences Po ou em Harvard, mas fazendo política real, tomando decisões”.
Lula, que levou o público aos risos em alguns momentos com comentários bem-humorados, foi muito aplaudido ao fim do discurso.
Também nesta terça-feira, mais cedo, ele almoçou com a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, candidata às eleições presidenciais francesas em abril de 2022.
Amanhã, completando sua agenda em Paris, Lula vai receber o prêmio “Coragem Política 2021” da revista “Politique Internationale” e se encontrar com o presidente da França, Emmanuel Macron.
Depois, viajará para Madri, onde encerrará uma intensa viagem pela Europa com um encontro com o chefe do governo espanhol, Pedro Sánchez. EFE