No Rio, movimentos populares distribuem alimentos saudáveis e sem veneno

Diário Carioca

Desde o início da pandemia da covid-19, mais de 200 famílias de comunidades do Rio de Janeiro já foram beneficiadas com cestas básicas de alimentos. A diferença é que as cestas contêm apenas alimentos saudáveis, não processados, sem agrotóxicos e que não vêm do agronegócio, mas sim de pequenos agricultores e da agricultura urbana.

O Programa de Agricultura Urbana da AS-PTA, com apoio e patrocínio da Fundação Banco do Brasil, convidou o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com o projeto “Nós por nós”, o Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM), o Levante Popular da Juventude, pequenos agricultores e agricultores urbanos e outras instituições. A iniciativa já resultou na distribuição de mais de mil cestas de alimentos saudáveis.

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Assessora técnica do Programa de Agricultura Urbana da AS-PTA, Letícia Ribeiro contou que o projeto, em atuação no Rio de Janeiro, no Paraná e na Paraíba, tem “o compromisso de comunicar às famílias beneficiadas que os alimentos entregues são diferenciados” e o resultado não seria possível sem parceiros locais em todo o estado do Rio. 

“Aqui no Rio, só foi possível concluir essa ação devido à atuação em rede de diversos parceiros locais, como o CEM [Centro de integração na Serra da Misericórdia], o Verdejar, o Levante Popular da Juventude e o MST, além das agricultoras e agricultores da Rede Carioca de Agricultura Urbana, da Associação de Agricultores biológicos do Rio de Janeiro e da União das Associações e Cooperativas de Pequenos Produtores Rurais do Rio de Janeiro”, enumera Letícia.

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Segundo Mariana Portilho, também assessora técnica da AS-PTA, o projeto cumpriu seu objetivo, de unir as duas pontas da cadeia, produção e consumo. Ela disse que a parceria com o MST, que forneceu arroz, feijão e farinha, foi fundamental para definir o diferencial da ação, que é saber a origem e qualidade dos alimentos.

“Estamos conseguindo alimentar as famílias em situação de vulnerabilidade e, na outra ponta, escoar as colheitas de produtores e produtoras que vêm sofrendo com os impactos da pandemia, já que muitos deles não estão podendo vender seus produtos nas feiras. A distribuição total de mil cestas gerou impacto e benefício para 2 mil pessoas”, afirma a representa da AS-PTA.

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O lema “quem tem fome tem pressa”, do sociólogo Betinho, também vem norteando as ações de caráter emergencial, como explicou Talles Reis, integrante do MST no Rio de Janeiro. Ele argumentou que a importância da solidariedade se faz mais urgente no momento atual, em que trabalhadoras e trabalhadores perderam seus empregos e não estão conseguindo sustentar suas famílias e comprar alimentos para colocar à mesa. Talles destaca o diferencial da alimentação saudável para os beneficiários:

“Não é uma cesta comprada no mercado, é uma cesta agroecológica, com alimentos saudáveis, sem agrotóxico, sem transgênicos, sem conservantes e de acordo com o que a gente prega: alimentar é um direito político. Outro ponto é que esses produtos vieram de experiências agroecológicas no campo e na cidade, de assentamentos da reforma agrária, fruto de um processo de luta e conquista que chega à mesa dos trabalhadores”, conta o integrante do MST.

Ocupar

Para a agricultora urbana, culinarista e cofundadora do CEM, Ana Santos, as ações reforçam o papel político dos movimentos progressistas nas comunidades. Ela contou que a tarefa é desafiante, já que o valor da cesta é mais caro, mas que o processo de escuta, conscientização e troca com os moradores traz recompensas.

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“Realizar as ações de solidariedade na favela tem sido um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade, uma vez que a gente embarca nessas ações de assistência, que para a gente é muito novo, mas também muito potente. A gente consegue fortalecer o morador e ser reconhecido, ocupando espaços que até então eram ocupados pela igreja e pelo narcotráfico”, afirma Ana.

A agricultora urbana e representante do CEM contou, ainda, que a alimentação resgata e promove vínculos de moradores com suas origens, como ocorre com a farinha fornecida pelo MST.

“Esses alimentos, principalmente a farinha, são um grande sucesso na favela, já que a favela é repleta de nordestinos e agricultores urbanos e esse alimento remete à memória do sabor que era a farinha da roça. É um trabalho que extrapola a soberania alimentar nutricional, ele também fortalece vínculos e estimula o morador a plantar seu alimento”, afirma Ana Santos.

As ações da campanha “Produtos da Gente” foram realizadas em duas entregas de 500 cestas cada em favelas cariocas da Serra da Misericórdia, na zona norte, e Catete e Cosme Velho, na zona sul. As cestas da agricultura familiar eram compostas por: PANCs (plantas alimentícias não-convencionais), frutas da época, hortaliças, legumes, verduras, arroz, feijão, farinha de mandioca e pão. Além dos alimentos também foram distribuídos materiais de limpeza e higiene, como o sabão ecológico produzido por mulheres da Serra gerando renda local.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Mariana Pitasse e Raquel Júnia


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