Nome do novo centro de parto natural gera debates na cidade pernambucana de Petrolina

Diário Carioca

A Prefeitura Municipal de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, anunciou em suas redes sociais a contagem regressiva para a inauguração do Centro de Parto Natural da cidade, que deve ocorrer ainda neste mês de junho.

Diante da proximidade da inauguração, a Câmara de Vereadores discute agora um projeto de lei que quer dar à maternidade o nome do médico Nilo Coelho, que se estivesse vivo completaria 100 anos em 2020. Nilo é tio-avô do prefeito Miguel Coelho (PSB), além de médico, também foi político e industrial e já dá nome ao aeroporto da cidade, uma fundação, uma escola, uma avenida, a um dos projetos irrigados e ainda ao memorial da cidade de Petrolina. Ele foi governador de Pernambuco entre 1967 e 1971, tendo sido nomeado pelo General Castelo Branco durante a ditadura militar. 

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A vereadora Cristina Costa (PT) pediu esclarecimentos sobre a homenagem, visto que uma lei municipal de 2017 determinou que o Centro – Hospital da Mulher homenagearia a Deputada Isabel Cristina de Oliveira, que faleceu em 2016. A vereadora afirmou que é incoerente renomear um prédio com alguém que já foi homenageado diversas vezes.

“Questiono se essa atitude não é uma falta de ética, já que retira a homenagem a deputada Isabel Cristina, que já foi aprovada pelos vereadores da Casa Plínio Amorim, em 2017. Ainda pergunto se não é uma afronta às mulheres de Petrolina, uma vez que o equipamento público é destinado a atender gestantes e renomear com o nome de um homem é desconsiderar a história das mulheres da nossa cidade.”, protestou a vereadora, nas redes sociais.

Movimento de mulheres quer homenagear parteira Idalina dos Santos

Ao saber da proposta de nomear o Centro de Parto em homenagem ao ex-governador, um grupo de mulheres discordou do nome por entender que a homenagem deve ser feita à parteira petrolinense Idalina dos Santos, que melhor simbolizaria a essência do Centro de Parto Natural.

A movimentação se tornou uma campanha nas redes sociais com as hashtags #CasadepartoIdalina e #CPNIdalina.

“Idalina foi uma mulher, foi parteira, é significativo para o local e a mobilização partiu de um grupo de mulheres mães ou futuras mães que desejam que o instrumento de parto natural seja nomeado com alguém que realmente teve importância nesse movimento e não o nome de um médico que já dá nome a muitas coisas na cidade”, afirmou a doula, consultora em aleitamento materno e acadêmica em enfermagem Danny Silva, que faz parte do grupo.

Dessa forma, o nome da parteira foi proposto em uma sessão da Câmara de Vereadores de Petrolina pelo vereador Gilmar dos Santos (PT), que também entende que o local deve receber o nome de uma mulher.

“Esse equipamento deve ter o nome de quem represente as mulheres. E quem mais, além das próprias mulheres, pode representá-las? Nós apresentamos três sugestões durante sessão da Câmara, entre elas a da parteira Idalina dos Santos”, afirmou Gilmar, que acredita que todas as sugestões de nomes femininos devem ser ponderadas.

O Centro de Parto Natural

O Centro de Parto Natural foi construído em frente ao Hospital Universitário, localizado no centro da cidade. Inicialmente seria uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no entanto foi convertido em maternidade pela pressão popular devido à necessidade do município, que até então não possuía nenhum hospital na rede pública exclusivo para atender as gestantes.

“O Centro de Parto é um sonho grande das mulheres que desejam parir com respeito, com dignidade e que desejam ter suas vontades durante o parto atendidas”, afirmou Danny.  “Elas desejam ter liberdade de caminhar, liberdade de se alimentar, de escolher a posição para parir, liberdade de ter seu filho consigo na primeira hora de vida – que é a hora de ouro e é extremamente importante para o vínculo – e só um Centro de Parto Natural possibilita isso por conta da demanda. Vai ter menos mulheres parindo, então a equipe vai estar lá pronta para assistir essas mulheres de forma mais humanizada”, completa a doula.

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O centro começou a tomar forma em 21 de setembro de 2019, durante as comemorações do aniversário da cidade, quando o prefeito Miguel Coelho assinou a ordem de serviço para início da construção.

Com o objetivo de desafogar o Hospital Dom Malan, a maternidade municipal contará com cinco apartamentos individuais, salas de vacina, de cuidados ao recém-nascido e área de deambulação (local de passeio das grávidas). Além disso, funcionará de domingo a domingo durante 24 horas e terá a capacidade de realizar 150 partos por mês.

Para Gilmar, a construção do centro é uma conquista “É o resultado de uma luta histórica de mulheres do nosso município pela promoção e defesa do direito à saúde das gestantes e dos recém-nascidos e, nesse sentido, de uma assistência humanizada tanto ao parto, quanto ao nascimento. É resultado, também, de uma série de denúncias sobre maus tratos, negligências, e mortes, tanto de gestantes quanto de crianças diante das limitações e precárias condições médico-hospitalares aqui no município”.

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga e Raquel Júnia


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