Pai Denisson d’ Angelis e Mãe Kelly d’Angelis, fundadores do Projeto Instituto Céu Estrela Guia e Representante do segmento de Umbanda no Conselho Municipal de Defesa e Promoção da Liberdade Religiosa (COMPLIR), escreveram uma nota de repudio as ultimas declarações da Primeira Dama do Brasil Michelle Bolsonaro
“Tais declarações ferem o Estado Democrático de Direito, violam a legislação eleitoral e promovem, através da demonização do diferente, a cultura de ódio, colocando em risco a convivência pacífica entre as distintas tradições religiosas e o respeito às diferentes crenças.’
Vamos bater um papo com Pai Denisson d’Angelis? Como representante da Umbanda ele pode falar quais as providências serão tomadas em relação a declaração.
Na segunda-feira (8), a primeira-dama compartilhou uma publicação que afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “entregou sua alma para vencer essa eleição”. O texto é acompanhado por um vídeo que exibe encontros do petista com lideranças de religiões de matriz africana.
Nota de repudio
Venho a público expressar minha profunda preocupação e repúdio às recentes declarações da atual primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, com anuência do presidente que a acompanhava, na Igreja Batista Lagoinha em Belo Horizonte. Tais declarações ferem o Estado Democrático de Direito, violam a legislação eleitoral e promovem, através da demonização do diferente, a cultura de ódio, colocando em risco a convivência pacífica entre as distintas tradições religiosas e o respeito às diferentes crenças.
Ao atribuir às administrações anteriores uma “consagração ao demônio”, a primeira-dama repete uma antiga prática excludente, beligerante e preconceituosa que, conforme demonstrado pela história, usa a divindade para tornar o semelhante um inimigo desumanizado, ligado a forças nefastas e que podem inclusive ser alvo de violência de forma legitimada.
Tachar um praticante da Umbanda e Candomblé como um ‘ser diabólico’ é um ato de racismo religioso.
Portanto, um maniqueísmo fundamentalista e perigoso, característico de regimes fascistas. Essa mesma estratégia foi utilizada no passado para legitimar perseguições religiosas destrutivas, promotoras de mortes e extermínio de populações. O resultado dessas declarações não pode ser outro senão fomentar a desagregação da sociedade através do medo e colocar em risco a luta internacional de mais de um século por diálogo e cooperação inter-religiosa e ecumênica. Com este discurso de ódio em nossa pátria, os casos de violência e intolerância religiosa aumentaram de forma vertiginosa nos últimos 4 anos.
Ao sugerir também que quem está no comando da cadeira presidencial no atual mandato seria Jesus, ela também comete crime contra a Constituição Nacional de 1988, que proíbe qualquer relação de dependência ou aliança de autoridades políticas com religiões específicas, e abre um terrível precedente quanto à teocracia em nosso país. Lembramos que a Presidência da República é uma instituição republicana fundamentada em mandato secular, em um país laico, que não está imbuído de predileção divina em relação a outros políticos e que é seu dever constitucional governar para toda a população nacional, independentemente de credo ou opção partidária.
Nossas tradições religiosas em diálogo concordam que o papel social da religião é apoiar a sociedade a transcender as suas diferenças e nos reunirmos pela defesa do bem comum, contribuir decisivamente para que cada pessoa possa superar suas tendências egoístas, violentas e intolerantes – essas sim demoníacas – e acessar as capacidades de amar, respeitar e apreciar a diferença.
Dentro desses princípios, devemos inspirar a humanidade a deixar para trás todo discurso que divida a sociedade entre “nós” e “eles” e fomentar a criação de um espaço em que toda pessoa possa, em pé de igualdade, contribuir para o avanço de todos. Acredito que muitas pessoas que seguem as tradições Protestantes, Pentecostais e Neopentecostais, mesmo Batistas da denominação supramencionada, são inspiradas por esse mesmo ideal.
E em nome do respeito à fé, peço que a Primeira Dama se retrate imediatamente, dentro dos princípios cristãos de amor ao próximo que afirma professar e aja em conformidade com as leis que regem nosso país, a fim de que seja verdadeiramente uma Pátria para todos os Brasileiros e Brasileiras, indistintamente de opção religiosa ou política