O tom amarelo que se exibe nos ipês de Brasília ganha uma nova conotação no mês de setembro. Da cor que encanta para a cor que alerta. O Setembro Amarelo é uma campanha nacional que tem como objetivo pautar o debate sobre saúde mental e prevenção ao suicídio. Na oitava edição, a campanha tem como tema “Agir salva vidas”.
A psicóloga Ana Bonadese ressalta que a Campanha é um marco memorial sobre a importância de se falar sobre o adoecimento emocional e as possíveis consequências trágicas que podem culminar no suicídio. No entanto, ela enfatiza que é preciso atenção aos riscos o ano todo.
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“É fundamental termos acesso universal, eficaz e eficiente aos serviços de saúde mental garantido a população que apresenta essa indicação”, defende.
De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), no Brasil, são registrados mais de 13 mil suicídios todos os anos e mais de 1 milhão no mundo. Os números podem ser bem maiores “em decorrência das subnotificações”, alerta a associação.
Em nota, a ABP destaca que o cenário é preocupante e que os números servem de “alerta para que a saúde mental seja um tema importante para a saúde pública”. A cada ano se registra mais casos de adoecimento mental e suicídio, principalmente entre os jovens.
Em 2015, o Brasil iniciou a campanha ‘Setembro Amarelo’ / Agência Brasil
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Para Bonadese, o contexto pandêmico agravou os casos de transtornos depressivos e ansiosos. Ela explica que os riscos para o adoecimento e suicídio são de ordem multifatorial, mas que em alguns ambientes os impactos são mais agressivos.
No ambiente acadêmico, com “o aumento da dificuldade de se lidar com as aulas remotas, o sofrimento pelo isolamento social, a insegurança econômica crescente, o medo da morte e de não ter acesso tempestivo aos serviços de saúde pública preventivos e pós infecção contribui para o agravamento e aumento dos casos clínicos” aponta a psicóloga.
Insegurança
“A insegurança dos universitários é ainda maior, seja pelas dificuldades de colocação no mercado de trabalho, seja pela característica já típica do ambiente acadêmico, de muitas cobranças, competitividade e disparidades de formação sócio cultural em um ambiente não disposto a executar as correções estruturais necessárias” disse Bonadese.
Para a estudante de psicologia e integrante do Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília (DCE-UNB), Maria Eduarda Gibson, para falar do tema é necessário desmistificar a individualização da responsabilidade pelo suicídio. “Devemos vê-lo como um mal social e sua prevenção como responsabilidade do Estado e demais instituições. Sendo a Universidade, lugar onde a discussão tenha protagonismo”.
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A estudante explica que o Diretório dos Estudantes trabalha no fortalecimento político das pautas relativas à saúde, “o que faz da saúde mental uma prioridade, dada a historicidade do sofrimento psíquico entre os estudantes”, aponta.
Na opinião de Bonadese, a saúde mental ainda é um tema sensível no ambiente acadêmico. “É comum observarmos casos de universitários que não conseguem lidar com as exigências típicas do final dos períodos de formação, em que os estágios e os trabalhos de pesquisa e conclusão de cursos (TCC e monografias) são obrigatórios e acabam por desenvolver episódios depressivos, ansiosos, entre outros”.
Ações de promoção de saúde, física e mental, são importantes para mitigar os efeitos da pandemia. O acesso à informação de qualidade permite que a população em sofrimento busque ajuda profissional. Diagnóstico e tratamento só podem ser feitos pelos profissionais de saúde, preferencialmente, psicólogos e psiquiatras, mas cabendo a detecção também por outros médicos. Alguns sinais de alerta relevantes para um possível adoecimento são: alterações no apetite, insônia, irritabilidade, dificuldades de concentração, perda de rendimento acadêmico e afastamento social.
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“Além disso, discursos do tipo “quero dormir e não acordar mais”, “só dou trabalho”, “sou um inútil”, “sou um peso para as pessoas” e ações de despedida, do tipo organização de documentos, encerramento de contratos e coisas do tipo, além de comportamento de risco (direção perigosa, abuso de substâncias, comportamento social arriscado) são indicativos de que a ideação suicida pode estar presente”, ressalta a psicóloga Ana Bonadese.
Pesquisa e saúde
Coordenadora da pasta de saúde pelo DCE, Maria Gibson informou que a administração da UnB, por meio da Diretoria de Atenção a Saúde Universitária (DASU), está promovendo a primeira Pesquisa de Saúde Mental, que “objetiva mapear o sofrimento dos estudantes nesse momento”, como seus resultados visam contribuir para definir diretrizes de atuação da instituição.
“A pesquisa já está em fase final e os resultados vão ser apresentados para o Comitê de Ações de Recuperação do COVID 19 da UnB (CCAR) e também ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE). Além disso, está sendo formada uma Comissão permanente para discutir o que já foi construído para a política UnB Promotora da Saúde”, informa.
Alerta
Cerca de 97% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias, alerta a ABP.
“A morte por esta causa é uma emergência médica e pode ser evitada através do tratamento adequado do transtorno mental de base”, enfatiza o presidente da ABP, Dr. Antônio Geraldo da Silva.
Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza nacionalmente o Setembro Amarelo. O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a campanha acontece durante todo o ano.
Fonte: BdF Distrito Federal
Edição: Flávia Quirino