Parlamentares e lideranças sindicais se unem em protesto na Câmara contra taxa de juros do BC

Diário Carioca

A cobrança pela queda da taxa de juros por parte do Banco Central (BC) ganhou um novo formato nesta quarta-feira (21), na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF). As queixas de parlamentares contrários à atual política da autarquia saltaram do púlpito do plenário para um protesto organizado em parceria com lideranças sindicais.

Capitaneado pela Frente Parlamentar contra os Juros Abusivos, o grupo amplificou as críticas à cartilha do BC para pressionar o presidente, Roberto Campos Neto, a rever a taxa de juros Selic.

Nesta quarta, o índice foi mantido em 13,75% pela sétima vez seguida. Apesar de já haver em alguns setores, como na própria equipe econômica do governo Lula, uma previsão de que a autarquia manteria a taxa, a gestão esperava sinais de possível redução do índice a partir de agosto, o que não ocorreu.

A gestão petista e parlamentares sintonizados com a crítica ao Banco Central argumentam que a taxa de 13,75% é incompatível com o cenário em que a inflação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) está em 3,94% nos últimos 12 meses, considerando o período até maio passado.

“Esse é um assunto crucial para a economia brasileira. Há um problema de modelagem no país. Essa taxa de juros, estimada com os parâmetros mais conservadores, vai de 2% a 11,25%, e hoje, portanto, tecnicamente, seriam 11,25% e nós temos 13,75%. Isso dá 2,50% a mais, o que dá R$ 190 bilhões a mais de juros por ano”, apontou o deputado Mauro Filho (PDT-CE), ao mencionar cálculos feitos por ele e uma equipe da Universidade Federal do Ceará (UFC), onde o parlamentar ministra aulas nos cursos de mestrado e doutorado em Economia.

O pedetista defende que o país precisa “buscar uma alternativa” ao modelo adotado hoje pelo Banco Central.  “Não faz sentido a gente pagar R$ 690 bilhões de juros este ano se a gente vai investir R$ 159 bilhões na Saúde brasileira. Tem algo equivocado na alocação de recursos do governo federal. É essa a reflexão que fui estimulado a fazer. Precisamos entender o que o Brasil ultrapassa neste exato momento”, argumentou.   

Diante da insistência de Roberto Campos Neto em manter o patamar da taxa de juros ao longo do primeiro semestre do governo Lula, em que a gestão tem pedido uma política tarifária mais adequada ao contexto de tentativa de recuperação da economia, as forças políticas mais progressistas têm focado em personificar as críticas na figura do presidente da autarquia. Campos Neto foi indicado ao cargo por Jair Bolsonaro (PL) no final de 2018, quando o recém-eleito presidente vivia seu governo de transição.

“Nos parece uma política de sabotagem ao país e ao governo do presidente Lula porque essa taxa Selic de 13,75% ocorria em um cenário de inflação de mais de 10% no governo Bolsonaro. A inflação despencou: o acumulado dos últimos 12 meses deu 3,94%. A previsão de inflação ate o final do ano é de -5%. Isso tem um custo fiscal violentíssimo” (11:03), bradou o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ).

Parlamentares de alguns partidos do campo da direita liberal também têm feito críticas à taxa adotada pelo Banco Central. É o caso do deputado José Nelto (PP-GO), que nesta quarta se somou ao protesto e se queixou de falta de transparência no trabalho do Comitê de Política Monetária (Copom), que reúne o presidente e os diretores do BC. “Fazendo uma comparação com a política americana, a taxa de inflação nos Estados Unidos está em 9% e as taxas de juros em 5%”, exemplificou. Nelto também destacou que o índice elevado da Selic traz amplos prejuízos para a economia nacional.

“O preço de óleo diesel, fertilizantes, tudo está caindo porque o setor produtivo está paralisado. Ninguém faz negócios mais no Brasil. Você não compra mais uma casa financiada, um apartamento, os negócios no campo praticamente paralisaram por conta da taxa de juros. Não tem como continuar assim. Esta luta é uma luta por um Brasil melhor”, completou.

Lideranças de entidades civis também engrossaram o coro durante o protesto. A secretária-geral da Intersindical, Nilza Pereira Almeida, disse que o país vive “a pandemia dos juros altos”. “O Campos Neto mora num bairro bom de classe alta de São Paulo, no Morumbi, passa os finais de semana no Guarujá e tira férias com a família em Miami. Ele nunca vai saber o que é uma mãe ou pai de família receber R$ 500 ou R$ 600 de salário no final do mês e ter que pagar comida, aluguel, água, luz”, disse a dirigente.

O protesto organizado pela Frente Parlamentar contra os Juros Abusivos surge no mesmo dia em que membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico da Presidência da República, conhecido como “Conselhão”, publicaram uma carta coletiva aberta dirigida a Campos Neto e aos diretores do BC para cobrar uma redução da taxa básica de juros.

Assinada por 51 integrantes do grupo, entre eles a megaempresária Luiza Trajano, a carta também tem a adesão de nomes como o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes. O documento afirma que “é hora de baixar os juros para retomar a atividade econômica, gerar emprego e renda”.

Edição: Rodrigo Durão Coelho

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