No mês passado a Agência Pública completou dez anos de vida! Esse marco me fez pensar muito na organização que nos tornamos e como chegamos até aqui.
Lendo a newsletter em que a Natalia Viana, uma das fundadoras da Pública, conta sua experiência como única repórter brasileira a trabalhar com o WikiLeaks, descobri que quando ela voltou da Inglaterra para o Brasil com a missão de publicar os documentos secretos em jornais brasileiros, passou a escrever reportagens e distribuí-las gratuitamente para quem quisesse publicar. Essa lógica foi trazida para a Pública, fundada pouco tempo depois.
Lá em 2011, a Pública já nasceu inovadora. Desde o início, decidimos nos dedicar exclusivamente ao jornalismo investigativo pautado pelo interesse público – daí o nome “Pública“. Apostamos num modelo sem fins lucrativos, algo incomum entre organizações jornalísticas no Brasil até então, e na livre distribuição de nosso conteúdo. É por isso que somos uma “Agência”: tudo o que publicamos pode ser republicado gratuitamente por outros sites, desde que algumas regras sejam seguidas. As principais são dar créditos tanto para a Pública quanto para os repórteres no início das reportagens e publicar o conteúdo na íntegra, sem edições. (Sim, você pode publicar nossas reportagens no seu blog ou no jornal em que trabalha seguindo nossas regras, nem precisa pedir!)
Há sete anos cheguei na Pública com a missão de cuidar de nossas parcerias com republicadores e da comunicação institucional. Desde então, nós fazemos um grande esforço para distribuir as reportagens e entender até onde elas chegam. Buscamos ativamente novos parceiros, negociamos publicações com grandes veículos de comunicação, além de enviar todas as reportagens por e-mail para diversos jornalistas. (A seção “Rolou na Pública” da newsletter dos Aliados é dedicada a registrar cada uma dessas conquistas.)
Distribuir reportagens para outros veículos e sites faz com que nosso trabalho chegue mais longe, a públicos completamente diferentes e que talvez não tivessem contato com as histórias se elas não fossem publicadas em outros lugares.
Sempre fizemos questão de ter um conteúdo aberto e que as matérias em que revelamos injustiças estivessem acessíveis ao maior número de pessoas possível. A livre distribuição das reportagens vem “de berço”, está no nosso nome e permite que nossas histórias não fiquem restritas só a quem nos conhece. E isso só é possível graças a nosso modelo sem fins lucrativos e às contribuições dos Aliados e Aliadas.
Ao apoiar a Pública, você contribui para que leitores de veículos do país todo possam ter acesso a informação de qualidade. Cada reportagem é publicada, em média, por outros 20 sites. No ano passado, nossas matérias saíram em mais de 1100 veículos diferentes!
Olhando nossos arquivos da última década, vieram à memória vários momentos em que pessoas próximas me disseram que uma reportagem da Pública as marcou. Uma boa reportagem é capaz de ficar na memória das pessoas ou até incentivá-las a buscar justiça, quando vêem que outras pessoas passam pelo mesmo que elas. Frequentemente recebemos e-mails de pessoas que não conheciam a Pública, mas chegaram até nós ao ler uma reportagem que mostra uma situação familiar para elas.
Logo que entrei na Pública, em 2014, fui ler uma reportagem que tínhamos publicado meses antes sobre carros Vectra, da GM, que pegavam fogo ou explodiam repentinamente, matando pessoas. Senti um calafrio quando me lembrei que anos antes, o carro da minha mãe – mesmo modelo e ano dos carros que apareciam na matéria – havia pegado fogo. Ao contrário das histórias das famílias retratadas na reportagem, na minha, ninguém se feriu. Até eu ler aquela reportagem, sete anos depois do ocorrido, achávamos que o carro tinha tido uma pane elétrica. A investigação mostrou que, na verdade, o acidente foi causado por um defeito de fábrica que matou pelo menos cinco pessoas.
Distribuir jornalismo de qualidade – e, convenhamos, qualquer tipo de informação num mundo hiperconectado – é um grande desafio. Um desafio que a Pública abraçou quando nasceu agência sem fins lucrativos, há dez anos, e que encaramos diariamente. A cada reportagem que publicamos, penso em estratégias para espalhar aquela denúncia para o maior número possível de pessoas. Mas penso especialmente em quem, graças àquela matéria, vai ficar sabendo que outros passam pelo mesmo sofrimento.
Que a gente possa seguir investigando injustiças e distribuindo jornalismo de qualidade pelo mundo por mais várias décadas. Com seu apoio, claro.