O 13º dia da ofensiva russa na Ucrânia, nesta terça-feira (8), marca a abertura de corredores humanitários e cessar-fogo para a retirada de civis de cinco cidades que foram alvo de bombardeios nos últimos dias.
Segundo correspondentes que estão no leste europeu, as pessoas estão sendo retiradas da capital Kiev e dos municípios de Cherhihiv, Kharkiv, Mariupol e Sumi. A abertura ocorre após dias seguidos de fracasso no estabelecimento da medida, em função de divergências entre os lados russo e ucraniano.
"Já começamos a retirada de civis de Sumi para Poltava (no centro da Ucrânia), incluindo estudantes estrangeiros", disse o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, nesta terça, em sua conta no Twitter.
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O lado ucraniano, inclusive, anunciou ter solicitado à Rússia que expandisse o número de corredores: "Pedimos à Rússia que concorde com outros corredores humanitários na Ucrânia".
Corredores humanitários: alvo de embate
O estabelecimento dos corredores humanitários pautou os últimos dias do conflito. Na segunda (7), a Rússia disse que militares interromperam fogo e abriram corredores humanitários em várias cidades ucranianas. No entanto, o destino dos canais de retiradas de civis levava apenas para território russo e para Belarus.
O lado ucraniano considerou o movimento como “um golpe imoral” por direcionar os civis ucranianos ao país adversário e a seu aliado. De acordo com a agência de notícias russa RIA, o corredor de Kiev levaria à Belarus, enquanto os civis de Kharkiv teriam permissão para ir apenas para a Rússia.
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"Essa é uma proposta completamente imoral. O sofrimento das pessoas está sendo usado para criar uma imagem televisiva", disse um porta-voz do governo da Ucrânia na segunda (7), em nota. "São cidadãos ucranianos, eles deveriam ter o direito de ir para território ucraniano."
Mais de 1,7 milhão de refugiados já deixou a Ucrânia desde o início do conflito, informa o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
Refugiados ucranianos atravessam a fronteira com a Polônia em 7 de março de 2022 / Louisa Gouliamaki / AFP
Exigências russas
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou nesta segunda-feira (7) que a Rússia pode encerrar as ações militares na Ucrânia "em qualquer momento", caso Kiev cumpra com as condições de Moscou. A declaração foi citada pela agência de notícias estatal russa RIA Novosti.
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De acordo com o porta-voz, as condições para que Moscou encerre o que chama oficialmente de "operação especial militar" são: o reconhecimento da independência das autoproclamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk; reconhecimento da soberania russa sobre a Crimeia e a consolidação da neutralidade da Ucrânia e sua não adesão a blocos militares.
"Na verdade, estamos completando a desmilitarização da Ucrânia. Vamos completá-la... Eles [ucranianos] deveriam parar de lutar", disse o porta-voz presidencial russo.
Negociações entre Rússia e Ucrânia
As delegações da Rússia e da Ucrânia se reuniram nesta segunda-feira (7) para participar da terceira rodada de negociações sobre o conflito no território ucraniano. A discussão ocorreu a portas fechadas e durou mais de três horas. De acordo com o chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, as expectativas do lado russo para as negociações não se concretizaram.
Ele enfatizou que a Rússia levantou sem rodeios a questão da abertura de corredores humanitários. Medinsky acrescentou que os representantes ucranianos levaram todos os documentos trazidos pelo lado russo para revisão.
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Já o assessor do chefe do Gabinete do presidente da Ucrânia e participante das negociações, Mikhail Podolyak, afirmou que "há algum progresso positivo na melhoria da logística dos corredores humanitários". "As consultas sobre o bloqueio político básico do acordo, cessar-fogo e garantias de segurança continuarão", completou.
Podolyak destacou, todavia, que as conversas até agora não trouxeram resultados "que melhorem significativamente a situação".
Anteriormente, o membro da delegação ucraniana nas conversações com a Rússia, David Arakhamia, havia declarado que "as únicas questões sobre as quais é quase impossível concordar" com o lado russo são sobre "o reconhecimento da Crimeia" e a independência das chamadas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk.
Ao comentar sobre a demanda russa relacionada ao status militar de neutralidade da Ucrânia, Arakhamia disse que a Otan não está pronta para discutir a entrada de seu país em suas fileiras nos próximos 5-10 anos, e a própria Ucrânia "não lutará por uma oferta de filiação".
Na quinta-feira (10), está prevista uma reunião entre os ministros das Relações Exteriores da Rússia e da Ucrânia na Turquia.
Ucrânia pretende retirar 200 mil pessoas de Mariupol e 15 mil de Volnovakha ambas na região separatista de Donetsk / AFP
Entenda o conflito
Desde o final de 2021, tropas russas passaram a se concentrar nas proximidades da Ucrânia, e o Ocidente enviou armas para os ucranianos. O conflito tem como pano de fundo o mercado de energia na Europa e os limites da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), uma aliança militar composta por membros alinhados aos Estados Unidos, em direção à fronteira russa.
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Outro elemento central é o fracasso dos Acordos de Minsk, assinados em 2014 e 2015 como uma tentativa de construir um cessar-fogo para a guerra civil na Ucrânia. A ferramenta diplomática previa condições de autonomia para áreas separatistas de Donetsk e Lugansk e a retirada de armas da região em que tropas ucranianas enfrentavam os rebeldes.
O governo de Kiev se recusava a cumprir a parte política prevista pelos acordos, já que isso poderia causar uma fratura em sua soberania.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro sob a justificativa de “desmilitarizar e desnazificar" o país vizinho. Desde então, União Europeia e Estados Unidos anunciaram sanções como resposta e também fornecem armas aos ucranianos.
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Edição: Vivian Virissimo