Historicamente mulheres são sub-representadas em estudos e análises sobre saúde. Isso faz com que menos tratamentos estejam disponíveis para doenças especificas do sexo feminino, além de impedir que as particularidades do corpo feminino sejam observadas no desenvolvimento de medicamentos. O endocrinologista Flavio Cadegiani destaca que a diferença de gênero na pesquisa médica resulta em desvantagens concretas para pacientes mulheres, visto que ao longo dos anos os estudos estiveram mais voltados para os homens.
“Os homens já tiveram muito remédio, muita pesquisa para muita doença que foi analisada para eles exclusivamente, na história. Então não é justo agora a gente não ter essa análise sendo feita específica para mulheres. A partir do momento que você não estuda o sexo feminino, você tem terapias que deixam de ser usadas que seriam especificamente para mulheres. E aí como você não consegue estratificar por sexo, você não consegue definir a eficácia para a mulher”, explicou o especialista, que é doutor em endocrinologia clínica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Cadegiani analisa que separar os resultados das pesquisas por gênero traria resultados mais efetivos e poderia dar a chance de se criar tratamentos mais eficazes para as mulheres, levando em conta as diferenças fisiológicas entre os sexos, e portanto a reação deles aos medicamentos.
“Pouquíssimas pesquisas analisam os resultados por sexo, deveria ser obrigatório, porque nós sabemos que as respostas da maioria das medicações é específica de cada sexo, tanto na área da psiquiatria, oncologia, endocrinologia. As respostas são diferentes. Então essa análise por sexo deveria se tornar obrigatória”, concluiu, destacando que com a mistura dos dados relativos a mulheres e homens nas análises, a eficácia desses medicamentos pode se perder nas estatísticas.
Legislação Neste sentido, o deputado federal Célio Silveira (MDB-GO) apresentou o Projeto de Lei 3611/2019, que trata da paridade percentual dos gêneros, buscando equiparar a quantidade de homens e mulheres em pesquisas clínicas. “Estudos mostram uma representação deficitária das mulheres na coleta de amostras. Apresentei esse importante projeto que tem por objetivo aumentar a representatividade feminina nas pesquisas clínicas ou biológicas realizadas em seres humanos”, contextualizou.
O projeto já foi aprovado na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. Agora, está aguardando parecer do relator na Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara dos Deputados.