Saúde mental: como se adaptar à nova realidade de distanciamento físico?

Diário Carioca

O Brasil, ao contrário de outros países do continente como Cuba e Uruguai, está bem longe de conter os índices de contágio e mortes por coronavírus. Muitas são as incertezas quanto à pandemia, mas uma coisa é fato, para os próximos anos a rotina diária tal qual a conhecíamos antes do coronavírus não será a mesma.

A projeção é que durante o próximo ano ainda tenhamos que conviver com medidas de distanciamento físico, isolamento, máscaras, lavar as mãos com frequência e evitar aglomerações.

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Mas como se adaptar à nova realidade? Como fica a nossa vida social e afetiva diante dessa brusca mudança?

A psicóloga Mariana Tavares ressalta que é importante sempre termos em mente que não estamos enfrentando isso sozinhos, essas readaptações são coletivas. “A mudança virá a cada um em seu tempo e do seu jeito”, diz.

“A pandemia nos mostra que nenhum de nós está a salvo. Não só do vírus, mas das mudanças, interrupções e obstáculos sobre os quais não temos o menor controle. Essa é uma lição que de maneira geral, nós precisávamos ouvir”, completa.

Dosar a solidão e a convivência. Essa é uma das dicas dos especialistas. Para quem está sozinho,o celular e a internet podem ajudar a aplacar o distanciamento, para quem está em grupo, aprender a criar momentos de privacidade e de solidão é fundamental.

Tudo bem em ter dias ruins

E não tem jeito. Tem dias em que tudo parece muito ruim. Falta vontade para o trabalho, para sair da cama e junto com isso vem o desespero sobre o futuro e a ansiedade. Calma, isso é normal. “Temos uma grande expectativa de sucesso e quando isso não acontece nós somos extremamente duros com nós mesmos”, ressalta Mariana Tavares. Para a especialista é preciso lidar com esses sentimentos de forma honesta e menos dura.

Outra boa maneira de lidar com os dias cinzas é partilhar suas angústias, seja com um profissional ou com algum amigo ou parente. É o que pontua o psicólogo Milton Bicalho. “É preciso falar sobre os nossos sentimentos, dos medos, das angústias. Trocar experiências pode nos ajudar a enfrentar isolamento.”

Os especialistas também alertam para as “válvulas de escape” durante o período de confinamento. Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz em parceria com a UFMG e a Unicamp mostrou que o consumo de bebida alcoólica no país durante a pandemia aumentou 18%. Entre a população de fumantes, o volume de cigarros também subiu, 23% das pessoas aumentaram cerca 10 cigarros fumados por dia.

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Positividade tóxica

Em tempos de isolamento social, a internet e as redes sociais, podem ser grandes aliadas. Mas é preciso cuidado. Quem aí já se deparou com aquele stories no Instagram de pessoas que durante o isolamento se tornaram “super produtivas”? Seja na prática de exercícios, descoberta de novas habilidades, no trabalho, etc.

Pois isso pode ser um claro exemplo da chamada positividade tóxica, que são comportamentos que reforçam o sentimento de fracasso entre os demais. Cabe lembrar que as redes sociais nem sempre são um reflexo da realidade. O levantamento da Fiocruz mostrou, por exemplo, que entre as pessoas que já praticavam algum tipo de atividade física, o sedentarismo aumentou em 63%.

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Solução é coletiva

“Nossa grande tragédia é social. Não é o coronavírus”, afirma Milton Bicalho, em referência aos impactos que a pandemia traz para a vida social, nos afetos e para a subjetividade das pessoas.

Na mesma linha, Mariana Tavares acredita que por trás dessas transformações é preciso construir novas formas de sociabilidade. “Há uma engenharia em ação para nos deixar cada vez mais ilhados, isolados e intolerantes aos outros, as outras ilhas. Temos que ficar atentos para o fato de que há outras engenharias possíveis”, afirma a psicóloga.

Fonte: BdF Minas Gerais

Edição: Raquel Júnia e Elis Almeida


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