CCBB-RJ expõe mais de 100 obras de ex-pacientes da doutora Nise da Silveira

Diário Carioca

Cariocas e visitantes do Rio têm até o dia 15 de novembro para conhecer obras de ex-pacientes da psiquiatra Nise da Silveira. As peças integram a exposição “Nise da Silveira – A Revolução pelo Afeto”, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no centro do Rio e fazem parte do Museu de Imagens do Inconsciente, além de peças de arte contemporânea.

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A exposição está dividida em três grandes núcleos e começa pela sala Contexto, Dor e Afeto. Em seguida, os visitantes passam para o espaço Atelier, onde é possível conhecer um pouco da vida, das pesquisas e do trabalho de Nise, que morreu aos 94 anos, em 1999, e que ficou mundialmente conhecida por revolucionar e humanizar o tratamento psiquiátrico.

As visitas presenciais são diárias, exceto às terças-feiras, e acontecem no horário de 9h às 18h, com agendamento gratuito online pelo site de venda de ingresso para eventos. A exposição também pode ser visitada por meio de uma galeria virtual em 3D.

O Museu de Imagens do Inconsciente, de onde vieram as obras para o CCBB-RJ, foi criado por Nise em 1952 e está localizado no bairro do Engenho de Dentro, na zona norte da capital fluminense. Na época, a psiquiatra tinha o objetivo de reunir os trabalhos produzidos pelos seus pacientes nos estúdios de modelagem e pintura, revelando de forma profunda tudo o que se passava no universo interior deles.




Exposição também pode ser vista no formato virtual, com um passeio em 3D pelas salas do centro cultural / Divulgação/CCBB-RJ

O museu tem um acervo de 400 mil trabalhos variados, registrados como patrimônio. Desse total, foram escolhidas para a exposição telas de Carlos Pertuis, Fernando Diniz, Adelina Gomes, Emygdio de Barros e Arthur Amora. Entre os pacientes contemporâneos, está Albertina da Rocha.

A médica psiquiatra alagoana foi a única mulher a se formar em uma turma com mais de 150 homens. Nise da Silveira ficou mundialmente conhecida pela ideia vanguardista de usar o afeto como metodologia científica no tratamento de pessoas com problemas psíquicos.

Camadas do inconsciente

Segundo explicou o curador e produtor da mostra, Diogo Rezende, a passagem dos 22 anos de morte de Nise da Silveira este ano foi o principal estímulo para propor o projeto da mostra. O Museu de Imagens do Inconsciente ajudou a construir o projeto, explicou o curador.

O psiquiatra Vitor Pordeus, que trabalhou no Instituto Municipal Nise da Silveira de 2009 a 2016, salientou que ao buscar formas de acessar as camadas do inconsciente e criar um diálogo entre o inconsciente e a sua expressão em imagens, por meio de ferramentas artísticas e com aplicações científicas, Nise acabou reformando o entendimento da loucura no mundo.

“A Nise criou um método clínico centrado no afeto. Ela é herdeira de Juliano Moreira, de Baruch Espinoza, de Sigmund Freud, de Carl Gustav Jung. Jung foi aluno de Freud e professor da Nise, na Suíça. Homens revolucionários, que abandonaram a ideia do corpo máquina e trabalharam com a abordagem centrada na subjetividade, na emoção, na identidade, na simbologia, nas narrativas que restauram as memórias. A nossa dificuldade hoje é não deixar o afeto se apagar, em um momento em que tudo virou máquina”, destacou Pordeus.




Nise da Silveira é reconhecida mundialmente por defender a humanização do tratamento psiquiátrico e sua relação com a arte / Divulgação/CCBB-RJ

A exposição do CCBB-RJ exibe mais de 100 obras, das quais 90 são oriundas do Museu de Imagens do Inconsciente. Dentre as obras contemporâneas, há trabalhos de fotografia, vídeoinstalação, escultura, além de reproduções históricas de arquivo. Há referência ainda a livros escritos pela psiquiatra, entre os quais o último, Cartas a Spinoza, que foi um filósofo contemporâneo do francês Descartes e que, ao contrário deste, pregava que a ciência se faz também com afeto e com amor e não só só com razão.

O CCBB-RJ está seguindo todas as medidas de segurança sanitária para impedir o contágio pelo novo coronavírus (covid-19). Entre elas, entrada apenas com agendamento online; controle da quantidade de pessoas no prédio, equivalentes a um quinto do fluxo antes da pandemia; fluxo único de circulação; medição de temperatura; uso obrigatório de máscara; disponibilização de álcool gel; e sinalizadores no piso para o distanciamento.

O CCBB-RJ fica na Rua Primeiro de Março, 66, de frente para a Igreja da Candelária, no Centro do Rio de Janeiro.

Edição: Eduardo Miranda


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