O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, disse que os cerca de 50 quiosques irregulares removidos ontem sem aviso prévio da Praça Miami, na Vila Kennedy, serão reconstruídos no local e legalizados.
O prefeito e secretários se reuniram com cerca de 30 representantes dos comerciantes que trabalham na praça e prometeram ainda uma linha de crédito para a compra de estruturas e produtos perdidos durante as demolições.
“Gostaríamos de ter tido essa reunião anteriormente à intervenção que foi feita, o que não ocorreu. Mas a prefeitura já está tomando decisões e colocando nas suas diretrizes administrativas determinações para que isso não ocorra mais”, disse o prefeito, que considerou a remoção um trauma. “Todos nós queremos ordem na cidade, mas podemos fazer isso sem traumas, como foi o trauma de ontem que a todos causou lamento”.
A Vila Kennedy recebe há quatro dias consecutivos operações de patrulhamento com a participação das Forças Armadas. Em nota, o Comando Conjunto – responsável pelas operações das Forças Armadas na Vila Kennedy – disse ontem que estava ciente da ação de ordenamento, mas que ela foi desenvolvida por iniciativa da própria prefeitura.
“Eles aproveitam a estabilidade da área, fornecida pela presença das tropas, para ações de organização do espaço urbano”.
Os vendedores afirmam que não foram notificados antes das demolições e muitos não tiveram tempo de resgatar seus equipamentos e produtos antes que suas tendas fossem derrubadas.
Segundo o prefeito, medidas administrativas estão sendo tomadas contra servidores que realizaram a ação, e eles devem ser afastados. “Infelizmente, na administração de uma cidade tão grande como a nossa, muitas atividades de rotina como a que foi feita ontem são realizadas sem o conhecimento do secretario”, disse o prefeito, que afirmou que ele e seu secretariado “foram surpreendidos pela dimensão da remoção e pelo nível que atingiu”.
Em nota divulgada ontem, a prefeitura reconheceu que “houve uso desproporcional da força” e informou que o ordenamento foi um pedido da Polícia Militar, que confirmou. Segundo a prefeitura, além do comércio irregular, havia denúncias de que criminosos usavam alguns quiosques para venda de drogas e mercadorias roubadas.
Quiosques podem ser legalizados
Dentro de seis meses, os quiosques devem ser legalizados e instalados em locais na própria Praça Miami ou nos arredores dela. Os comerciantes que tiverem condições para recomeçar a trabalhar, no entanto, já estão liberados para voltar às atividades.
Grávida de três meses, Luciana Damasceno, de 34 anos, saiu de casa às pressas quando soube que o quiosque em que vendia café da manhã com o marido seria demolido. Os dois trabalham há 15 anos no mesmo lugar e atendem ao público a partir das 3h30 da manhã. Com a ajuda de amigos, o casal conseguiu salvar equipamentos, mas perdeu produtos.
“A estufa estava cheia, as garrafas de café estavam cheias. Perdemos muita coisa”, disse ela, que vai voltar ao trabalho na segunda-feira. “A gente vai improvisar. A gente vai trabalhar improvisadamente e muito limitadamente, mas vai trabalhar”, confessou.
O retorno será mais difícil para Neide Castor, de 43 anos. A rapidez da demolição não permitiu que ela salvasse fogão e refrigerador, que usava diariamente para fazer tapiocas.
“Ali foi onde eu criei meus filhos. Minha filha hoje é casada, trabalha comigo, e o esposo dela está desempregado. São duas famílias que dependem dali”, lamentou. “Não tenho dinheiro para comprar uma tenda, e segunda-feira vence meu aluguel”, lamentou.
A vendedora conta que tentou pedir para resgatar seus produtos e utensílios, mas os funcionários não deram ouvidos. “Não estou pedindo ajuda. Estou pedindo para trabalhar. Vivi minha vida toda trabalhando para não depender dos outros”.
Neide e os outros vendedores que não têm condições de retomar o trabalho imediatamente devem receber cestas básicas e uma tenda provisória para vender seus produtos. Mais detalhes da linha de crédito e do processo de legalização devem ser informados a eles amanhã, em uma reunião na Vila Kennedy.