Deputados defendem conselho para discussão do Regime de Recuperação Fiscal do Rio

Diário Carioca

Durante reunião do Colégio de Líderes da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) realizada nesta terça-feira (27/04), deputados defenderam a criação de um conselho com representantes dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, bem como do Ministério Público e da Defensoria Pública, para que os termos de adesão do Estado do Rio ao novo Regime de Recuperação Fiscal (RRF) sejam debatidos em conjunto. Presidente da Casa, o deputado André Ceciliano (PT) também pediu que o representante fluminense nas negociações com o Governo Federal seja escolhido pelo conselho.

Os parlamentares debateram a regulamentação da Lei Complementar Federal 178/21, publicada no dia 20 deste mês e que instituiu as bases para os novos acordos de recuperação fiscal entre os estados e a União. As novas bases determinam, dentre outros aspectos, a realização de reformas previdenciárias e administrativas estaduais, bem como a imposição de um teto de gastos. O Estado do Rio está em recuperação fiscal desde o final de 2017, mas o Governo Federal, através desta nova legislação, exige outras contrapartidas. O novo acordo teria vigência de dez anos.

“Temos um ano para aderir a este novo regime e o Executivo Estadual quer apressar os trâmites e entrar no acordo em dez dias. Não devemos aderir de qualquer forma. Como o RRF tem a ver com o Legislativo e o Judiciário, é necessário um consenso entre os poderes. Defendo um conselho estadual, incluindo o MP e a Defensoria, para que nossas posições sejam ouvidas”, afirmou o presidente. Ceciliano também criticou as bases do novo acordo. “É impossível que os termos da Lei Complementar Federal 178/21 sejam cumpridos. Com autoridade posso falar, pois votei favorável às medidas que possibilitaram ao Estado do Rio participar da recuperação fiscal em 2017. Estes novos termos deixariam o servidor público sem aumento por dez anos”, concluiu o presidente do Parlamento Fluminense.

Já o líder do Governo na Alerj, deputado Márcio Pacheco (PSC), defendeu a celeridade na assinatura dos termos entre os Executivos Estadual e Federal. “O diálogo com a Alerj é fundamental e não vamos abrir mão. Mas precisamos assinar o RRF o quanto antes, até porque, sem o regime, nós não pagaremos os salários dos servidores ao final do mês. Só por causa do atraso na regulamentação dos novos termos, já pagamos R$ 1,2 bilhões da dívida. Estamos pendurados por uma liminar do Supremo para que não tenhamos que pagar novos valores da dívida”, argumentou Pacheco.

Dados

A reunião de líderes partidários começou com uma apresentação do diretor da Assessoria Fiscal da Alerj, o economista Mauro Osório. Ele levantou os principais pontos de discussão do novo acordo e trouxe dados para o debate. Segundo Osório, o problema maior do Estado do Rio tem relação com as receitas e não com as despesas. “Nossa crise é de receitas. Temos poucos funcionários públicos com relação ao nosso PIB, o que demonstra que vivemos uma crise fiscal com pouco gasto de pessoal. A Ceperj, por exemplo, não tem um estatístico, e o Executivo conta com apenas um funcionário concursado que é assistente social”, frisou.

Osório também salientou os problemas relativos ao pacto federativo. O economista disse que o Estado arrecadou R$ 174 bilhões para os cofres federais, e só recebeu de volta R$ 36 bilhões. “Entre todas as capitais, a que menos recebe recursos federais é a capital fluminense. É preciso rever estes termos, pois somos um estado com problemas fiscais e uma população que perde poder aquisitivo. Entre 2014 e 2019 o Estado do Rio perdeu meio milhão de empregos, o que representa uma queda de 15%”, declarou.

De acordo com Osório, é preciso assinar um acordo com bases que contemplem os interesses fluminenses. “É importante ter o acordo para dar o refresco, mas com outras bases. O acordo faria com que o Estado economizasse R$ 50 bilhões até 2023. Mas a saída para a crise está no investimento público, que geraria novos empregos e renda, além de uma maior circulação da economia, com a devolução para os cofres públicos através de impostos”, concluiu.

Opinião dos parlamentares

Parlamentares de diferentes correntes ideológicas discursaram sobre suas visões. Presidente da Comissão de Tributação da Alerj, o deputado Luiz Paulo (Cidadania) afirmou que este acordo é muito pior do que o anterior. “Concordo com o Ceciliano que todos os poderes precisam ser ouvidos. Muitos quesitos já cumprimos, como a alíquota de 14% do salário dos servidores para aposentadoria. Mas nestes novos termos, de um lado você não reajusta, tira o triênio, e do outro lado ainda acaba com a chance de evolução da carreira. No meu ponto de vista, é muito pior do que o pacote de maldade do Pezão”, afirmou.

Na mesma linha, a presidente da Comissão de Saúde da Casa, deputada Martha Rocha (PDT), defendeu o que chamou de empoderamento dos poderes. “Ainda não conseguimos implementar o Plano de Cargos, Carreiras e Salários da Saúde (PCCS), que foi aprovado por esta Casa. Parece que o Poder Legislativo não tem poder e só o conselho do RRF que dita o que pode ou não ser feito”, lamentou. Presidente da Comissão de Segurança Pública, o deputado Delegado Carlos Augusto (PSD) foi enfático: “Do jeito que este acordo está sendo feito, as polícias Civil e Militar do Estado do Rio acabam. Já escutei que ao menos dois mil agentes da Polícia Civil vão se aposentar só com a notícia desse acordo. Por que não se faz o regime conversando com a Casa, expondo os verdadeiros motivos? Os servidores não podem arcar com todos os ônus”.

Já a deputada Renata Souza (PSol) disse que o Estado do Rio não pode ser submisso. “Não podemos submeter o Rio a uma chantagem política e econômica. O Governo Federal não pode simplesmente mandar. Precisamos prever os tempos futuros, o que vai ser decidido para os servidores. Nossas decisões de hoje impactam o que vai acontecer em 10 anos. Sem o debate, submeteremos o Rio a uma situação mais dramática, além da bomba relógio que estaremos protelando”, criticou.

O deputado Alexandre Knoploch (PSL), por sua vez, disse que o Estado do Rio tem que buscar novas fontes de receitas. “Concordo que o pacto federativo é muito ruim para o Rio. Mas ficar dependendo de lutar por isso e pelos royalties não é o suficiente. Precisamos olhar para as matrizes econômicas do Estado para além do petróleo. Acredito que a discussão da implantação de cassinos que ocorre no Congresso é super importante, bem como salvarmos o próprio Aeroporto do Galeão para termos uma boa infraestrutura logística”, ressaltou

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