Quem passa pela Praça Mauá, no centro do Rio de Janeiro, pode apreciar um dos prédios mais marcantes da história cultura e arquitetura brasileiras. Em estilo art déco, o Edifício A Noite, com 22 andares e 102 metros de altura, é considerado o primeiro arranha-céu do país, e recebeu esse nome por sediar o jornal de mesmo nome.
Agora, ele vai se tornar um prédio residencial.
Paulo Vidal, arquiteto e superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Rio de Janeiro, explica que o fato do prédio ser tombado não impede sua utilização residencial, desde que seja preservada sua configuração estética. Ele acrescenta que o edifício é um símbolo da modernidade no país.
“Esse prédio simbolizava a modernidade, e um Rio de Janeiro que era a capital federal e a expressão de um Brasil grande, que estava junto com as grandes outras nações na entrada da modernidade com os prédios verticalizados”.
Construído na década de 1920, a partir de 1936 o prédio abrigou, em quatro andares, a Rádio Nacional, um dos símbolos da comunicação na época. Por seus corredores passaram grandes nomes da música brasileira, como Emilinha Borba, Dalva de Oliveira e Cauby Peixoto, na chamada época de ouro do rádio. Outros destaques foram os programas de auditório e as novelas, além do Repórter Esso, primeiro jornal radiofônico do país.
O locutor Cirilo, que trabalha na emissora há mais de 45 anos, destaca alguns programas de sucesso, como Onde Canta o Sabiá, de Gerdal dos Santos; Nacional 80, comandado por Apolinho e Hilton Abi-Rihan, e Alô Daisy, com Daisy Lúcidi. Ele reforça a contribuição importante da Rádio Nacional para o país.
“Não pode falar em comunicação no Brasil. Não pode falar em rádio no Brasil, sem falar em Rádio Nacional. Porque a Rádio Nacional teve uma época que ela representava tudo, era a emissora do país”.
Já Douglas Corrêa, jornalista da empresa há 50 anos, ressalta a importância do Repórter Esso.
“Eram quatro edições diárias, e que o Brasil parava. Eram 5 minutos, e sempre às 8h, 12h55, 18h30 e 20h55. Se as pessoas tivessem passando no comércio, na rua, elas paravam para ouvir na rádio vitrola. Se o Repórter Esso não desse, ninguém acreditava”.
Douglas também conta como eram concorridos os programas de auditório.
“A fila para ingresso na Rádio Nacional dava voltas lá no prédio da Praça Mauá. Eram filas enormes para assistir aos programas de auditório que tinham na Rádio Nacional”.
A Rádio Nacional permaneceu operando no ‘A Noite’ até 2012, quando desocupou o imóvel para a realização de reformas.
O Edifício também foi sede do Instituto Nacional de Propriedade Industrial, o INPI.
Tombada em 2013 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Iphan, por suas características arquitetônicas e históricas, a construção se tornou ícone da região portuária da cidade