O Deputado Federal do PSOL, Tarcísio Motta, concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário Carioca, onde discutiu o cenário político atual do Rio de Janeiro em meio à corrida para ocupar a cadeira da prefeitura da cidade.
Motta iniciou a entrevista destacando a longa permanência de certos grupos políticos no poder municipal, citando especificamente os mandatos consecutivos de Eduardo Paes (PSD), assim como a influência dos aliados de Marcelo Crivella (Republicanos) agora apoiando Paes. Para o deputado, “Eduardo Paes não tem mais nada de novo para oferecer para essa cidade, ele só tem a oferecer uma continuidade de uma cidade que está cara, injusta, desigual e violenta”.
No entanto, ele enfatizou que o cenário político atual oferece espaço para mudanças e alternativas. Motta observou que o Rio de Janeiro, em certa medida, é um berço do bolsonarismo, lembrando que a cidade elegeu Crivella para derrotar Eduardo Paes, como uma saída para a direita autoritária e fundamentalista. Nesse contexto, o deputado ressaltou que a esquerda tem uma oportunidade significativa de crescimento.
Motta rejeita a ideia de uma campanha polarizada entre um candidato apoiado por Lula e outro por Bolsonaro, argumentando que o debate eleitoral sobre a cidade deve se concentrar nas questões locais e nas necessidades da população carioca. Ele afirma que sua candidatura de esquerda busca oferecer uma perspectiva de mudança e tem espaço para crescer em 2024. “Esse cenário, portanto, é um cenário em que a esquerda tem um espaço muito grande para crescer, e é nesse espaço que temos trilhado a nossa estratégia de campanha”, conta Tarcísio.
Uma pesquisa recente revela uma disputa acirrada pela segunda vaga no segundo turno da eleição para o município. O parlamentar demonstra estar em uma posição favorável, com uma pequena diferença de apenas 4% em relação ao segundo colocado, Alexandre Ramagem (PL), consolidando assim sua caminhada para um possível segundo turno.
“Até aqui o que as pesquisas mostraram para gente, é a chance real de disputarmos com Ramagem a segunda vaga no segundo turno e fazermos um bom debate com Eduardo Paes para que a cidade escolha o que ela quer para o seu futuro”, afirmou Tarcísio. “As pesquisas têm indicado que essa chance é real, ainda mais se considerando uma fragmentação das candidaturas de direita na cidade do Rio de Janeiro, e os problemas que o Ramagem tem para enfrentar com a polícia por causa da questão da espionagem que ele fez ilegalmente durante o governo Bolsonaro, tudo isso nos leva a crer, que a gente tem chances reais de ir para um segundo turno e dar uma chance para que o Rio de Janeiro possa mudar o seu futuro, então essa é a perspectiva e o clima da nossa campanha é exatamente essa”, completou.
Tarcísio destacou áreas em que o atual prefeito tem falhado em sua gestão e apontou a necessidade de mudanças estruturais na cidade. “Eduardo Paes tem errado nessa crença de que o mercado vai resolver tudo pela cidade e que não precisa de política pública real e de mudança estrutural na cidade do Rio de Janeiro”, afirmou.
O parlamentar questionou a estratégia de Paes em relação às unidades escolares, destacando o uso de creches conveniadas como solução. Ele também criticou a privatização de hospitais como uma abordagem para a saúde pública e a insistência em uma lógica de BRT para o transporte, “sem ferir os interesses da massa das empresas de ônibus”.
Mobilidade Urbana
Enquanto o Rio de Janeiro testemunha uma série de inaugurações voltadas para a melhoria da mobilidade urbana, a atual gestão é questionada se está abordando adequadamente os desafios enfrentados pelos cidadãos. De acordo com Tarcísio Motta, as mudanças implementadas não resolvem os problemas essenciais da população.
Segundo Motta, “nós estamos há muito tempo em uma cidade administrada por um prefeito covarde”, incapaz de enfrentar estruturalmente os problemas do transporte público na cidade. Ele critica a ênfase em soluções superficiais, como a administração do BRT, que apenas endivida a cidade sem abordar as questões fundamentais.
“O que acontece, na mesma semana que a operação da TransBrasil começa a acontecer, a passagem do metrô aumenta. Ou seja, as pessoas estão sendo obrigadas a usar o sistema BRT não é porque ele seja melhor, mais rápido, mais eficiente, é porque o metrô e o trem estão muito caros”, destacou Motta.
O parlamentar aponta a falta de integração tarifária e de modais como parte do problema, destacando a necessidade de uma abordagem mais corajosa e estruturada. Ele ressalta a importância de enfrentar os interesses estabelecidos para garantir um transporte público acessível e de qualidade para todos os cidadãos.
Saúde
A saúde pública no Rio de Janeiro é um problema complexo e abrangente que requer atenção imediata e soluções estruturais. Tarcísio Motta expressou preocupações sobre a gestão atual da saúde na cidade, destacando falhas significativas e sugerindo mudanças fundamentais.
Motta enfatizou a necessidade de integração na atenção hospitalar, destacando a importância de uma autoridade metropolitana ativa e eficaz para coordenar os serviços de saúde em toda a região. Ele criticou a falta de ação do prefeito Eduardo Paes nesse aspecto, enfatizando a necessidade de enfrentar o problema de frente.
O parlamentar apontou para as deficiências no atendimento primário de saúde, ressaltando os problemas associados às Organizações Sociais (OS) e defendendo uma abordagem mais direta do poder público para garantir atendimento de qualidade à população.
Além disso, Motta abordou a importância da integração dos hospitais federais na cidade, destacando a necessidade de coordenação com o governo federal para melhorar o acesso a especialidades médicas e reduzir as longas filas de espera por tratamento.
Outro ponto levantado por Motta foi a escassez de profissionais de saúde e a falta de concursos públicos para garantir um quadro estável de funcionários. Ele enfatizou a importância de resolver essas questões fundamentais para melhorar o funcionamento do sistema de saúde e garantir atendimento adequado à população.
Relação de amor e ódio
Após dizer que a cidade de Maricá, na região metropolitana do Rio de Janeiro, é uma “merda de lugar”, o prefeito da capital carioca, Eduardo Paes, parece estar buscando uma aproximação com o prefeito local, Fabiano Horta (PT). Essa mudança de postura se deve, principalmente, ao crescimento econômico que Maricá vem experimentando nos últimos anos, impulsionado pelos royalties de petróleo, o que levou a cidade a ficar com maior PIB do estado.
No entanto, essa mudança de atitude de Paes não passou despercebida, e Tarcísio Motta destacou a natureza oportunista de Paes, afirmando que ele busca se associar ao sucesso de administrações municipais bem-sucedidas, como a de Maricá, quando convém politicamente. “Eduardo é um oportunista. Eduardo ruma para onde o vento parece estar soprando para aquele momento”, afirmou.
Motta também criticou a falta de um projeto econômico consistente para o Rio de Janeiro, contrastando-o com a situação de Maricá, que desfruta de uma fonte de receita estável proveniente dos royalties de petróleo. “O Rio de Janeiro não possui o pré-sal, tampouco a fonte de receita proveniente dos royalties que Maricá desfruta. Em contrapartida, o Rio não apresenta um projeto econômico sólido. Dentre as capitais brasileiras, o Rio de Janeiro foi uma das que menos gerou empregos no último período”, argumentou.
“O Rio de Janeiro não possui esse projeto, e por qual motivo? Porque Eduardo apostou tudo nos chamados megaeventos, e esses megaeventos se tornaram um fardo para a cidade, gerando endividamento e um modelo econômico que não incluiu a população”, finalizou o deputado.
Governo Castro
Durante a entrevista, o deputado Tarcísio Motta não poupou críticas à atual gestão do governador Cláudio Castro, destacando uma série de problemas enfrentados pelo estado do Rio de Janeiro. Motta ressaltou a importância da harmonia entre prefeitura e governo para uma administração pública eficaz.
Tarcísio Motta, em suas próprias palavras, descreveu o governo Castro como um “desastre”, destacando a negação de direitos básicos à população carioca. Segundo ele, o estado vive em uma profunda desigualdade, com recursos mal utilizados devido à corrupção e ao marco do poder, resultando na negação de direitos fundamentais como emprego, segurança, transporte, educação e saúde.
Motta destaca essas críticas, enfatizando que o governo Cláudio Castro é um “desastre completo”, caracterizado pela falta de projetos para o Rio de Janeiro. Ele apontou a venda da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) como um exemplo dessa gestão questionável, ressaltando que os recursos obtidos foram gastos para fins eleitorais, deixando o estado em uma crise econômica e financeira.
O político também destacou os problemas na área de segurança pública, afirmando que a Polícia Militar e a Polícia Civil refletem a falta de projeto estrutural do governo. Ele criticou a decisão de Cláudio Castro de acabar com a secretaria de segurança, distribuindo as chefias policiais sem critérios claros e atribuindo status de secretaria a elas. Essa abordagem, segundo Motta, é inadmissível em um estado democrático de direito e contribui para uma relação “carcumida” entre política, polícia e milícia.
Por fim, Motta alerta os eleitores sobre a associação entre o candidato Alexandre Ramagem e o governo de Cláudio Castro, enfatizando que Ramagem representaria a continuidade do desastre administrativo observado no estado. Ele concluiu que a mudança é necessária, mas não pode ser para pior, destacando a importância de uma gestão comprometida com o desenvolvimento social justo e eficaz para a cidade do Rio de Janeiro.