Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas mostra que a maioria dos crimes cometidos na cidade do Rio de Janeiro ocorre em percursos de até 12 quilômetros de distância de onde o criminoso vive. O estudo foi desenvolvido pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da fundação, a partir de dados da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap).
A fundação analisou os dados de janeiro a julho de 2015, de 1.644 detentos maiores de idade e que foram condenados naquele ano por roubo, furto e extorsão mediante sequestro e tráfico de drogas. Foram considerados na análise o local onde vivia o detento e onde ele cometeu o crime.
A pesquisa considerou como descolamento curto quando o crime foi cometido em um percurso de até 12 quilômetros, deslocamento médio para percursos entre 13 e 24 quilômetros, e de 25 a 40 quilômetros deslocamentos longos. A geografia da cidade do Rio de Janeiro foi utilizada como critério para poder estipular os tipos variados de percurso.
Foram 344 crimes contra o patrimônio realizados a curta distância, o equivalente a 48% do total; 196 a média distância (27%); e 178 com deslocamento longo de até 40 km (25%). Em relação a crimes de tráfico de drogas, 60% (156) foram cometidos a curta distância; 54 com deslocamento médio (21%); e 49 (19%) a distância longa.
De acordo com a coordenadora do levantamento, socióloga Ana Luisa Azevedo, os crimes analisados representam 72% dos delitos que levaram a condenações na capital fluminense. E os dados apontam que a maioria foram praticados em curtas distâncias. “Como se fosse um deslocamento prioritário entre eles”, disse.
A região da cidade que concentrou mais crimes contra o patrimônio (roubo, furto e extorsão) com trajetórias curtas foi a zona norte, seguida do centro da cidade. Já na zona oeste predominam casos de tráfico de drogas, também em distâncias curtas.
Conforme a pesquisa, algumas das hipóteses de os criminosos cometerem crimes próximo de casa são: gasto para locomoção, risco no momento de fuga e garantia de proteção de uma facção criminosa.
O levantamento indica que essa escolha não foi por acaso. “Pode ter sido pensada pelo deslocamento e relação custo/benefício, mas pode ter outras coisas envolvidas, como a questão do transporte público, áreas expressas próximas, uma proteção de facções criminosas”, disse a coordenadora.
Os dados sobre os tipos de crimes em determinadas regiões e a questão do deslocamento podem ajudar as investigações policiais. “Tudo isso pode ser levado em consideração”, afirmou.
A FGV pretende atualizar a pesquisa com a inclusão de outros crimes, em um período maior de tempo, abrangendo dados fechados de 2016. A perspectiva é iniciar o novo trabalho ainda este ano.