As ações de combate à covid-19 no estado do Rio de Janeiro foram debatidas durante painel virtual realizado, nesta segunda-feira (14/12), pelo Fórum Rio de Desenvolvimento da Alerj.
O grupo, composto por deputados federais e estaduais, além de especialistas, reitores das universidades públicas fluminenses e economistas, se reuniu pela sexta vez e identificou que o desafio imediato para enfrentar a pandemia envolve a regulação de vagas nos hospitais, a elaboração de um plano de vacinação com o Ministério da Saúde e, paralelamente, a definição de estratégias de suporte e de incentivo à economia.
“Não paramos de trabalhar, mesmo nesse período. Aprovamos em plenário cerca de 250 projetos de leis diretamente ligados à pandemia e 212 deles se tornaram leis de proteção à vida nesse cenário da covid-19. Identificamos muitos pontos nessa reunião que vamos atuar”, garantiu o o presidente da Casa, deputado André Ceciliano (PT). Ao final da reunião ele também antecipou que, até o dia 15 de janeiro de 2021, será apresentada aos integrantes do Fórum uma nota técnica produzida pela Assessoria Fiscal da Casa, juntamente com economistas e especialistas em saúde, sobre Inovação em Saúde pensando na economia e no bem estar da população.
Vacinação na Fiocruz
A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, abriu o debate informando que a vacina produzida pelo grupo já está na fase três das testagens e que apresentou bons resultados. “Somos referência no país e no mundo. Os nossos grupos de pesquisa já estão na fase três de ensaios clínicos da vacina do Covid. Essa vacina é a primeira que já entregou resultados nessa etapa e já demonstrou eficácia e segurança acima dos limites exigidos pelo Ministério de Saúde”, garantiu. Ela também disse que nenhum dos voluntários que tomaram a vacina tiveram sintomas graves. “Essa vacina salva vidas”, frisou.
Nísia informou que se tudo sair como o previsto, no primeiro semestre, serão entregues 15 milhões de doses, até junho, podendo chegar a 100,4 milhões de doses até o final do ano. “Até agosto já teremos internacionalizado toda a vacina. Isso demonstra a potência do nosso país. Será possível termos uma produção sustentável, que só laboratórios públicos, como da Fiocruz e do Butantã, conseguem fazer. Poucas empresas estão produzindo vacinas mundo afora”, garantiu.
Com relação a vacina da Pfizer, que está sendo cotada pelo Ministério da Saúde para distribuição nacional, ela explicou que hoje é impossível o Brasil produzir uma vacina sintética como essa, mas lembrou que existem pesquisadores no país envolvidos em analisar esses tipos de vacina. “E aí é fundamental investir nesses profissionais e linhas de pesquisa. Essas são as primeiras vacinas com essa tecnologia aprovadas no mundo”, sugeriu.
Dentro dos desafios do futuro, Nísia destacou que foi muito importante a Fiocruz ter assinado, com o Governo do estado, a escritura definitiva do Complexo de Biotecnologia em Saúde para a produção de vacinas e outros insumos de saúde. “Vamos conseguir quadruplicar a produção de vacinas e criar novas, como a da covid-19 no estado. O Complexo também vai gerar um aumento de 1.500 novos postos de trabalho. Demos um passo importante para termos autossuficiência imunobiológica e criamos vagas de emprego e de desenvolvimento econômico de saúde no Estado do Rio”, garantiu.
O trabalho das Universidades
As universidades do Rio também tiveram um papel importante no combate ao Covid-19 e os resultados foram apresentados no encontro. A reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires, destacou que já foram realizados mais de 30 mil testes RT-PCR para Sars Cov-2 e disse que mais de 10 mil pacientes estão sendo acompanhados junto com a Fiocruz. “Esse grupo de estudo tem gerado muito resultado. É real o aumento de casos. Verificamos que infelizmente chegamos a um grau de transmissibilidade altíssimo no estado. Provavelmente porque está tendo mais mobilidade das pessoas nas ruas”, alertou.
Denise também lembrou que com o apoio da Alerj, a Coope-UFRJ desenvolveu um ventilador para covid-19 e destacou que o hospital da universidade abriu 100 novos leitos de UTI e 60 leitos de enfermaria este ano. No entanto, ela antecipou que a verba federal que é dada para a contratação de pessoal não será mais enviada a partir de dezembro. “Com isso teremos que fechar esses leitos, pois não temos equipe para atender essa demanda”, disse. Para finalizar, Denise informou que o Brasil está em décimo segundo lugar no ranking dos países que mais avançam no combate à covid-19, e que o Rio de Janeiro é um dos estados mais atuantes nessa luta, tendo a Fiocruz e a UFRJ à frente de muitas pesquisas.
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) sugeriu aos integrantes do Fórum uma ação conjunta para solucionar a perda de receita que a universidade sofrerá no próximo ano. “Caberá a esse Fórum encaminhar as reivindicações de recursos da universidade à União. Há uma demanda nas universidades e no Estado do Rio de Janeiro e é importante que sejamos porta-vozes destas demandas”, afirmou.
Ampliação de leitos
A presidente da comissão de Saúde da Alerj, deputada Martha Rocha (PDT), lembrou que foram realizadas inúmeras audiências públicas sobre o tema na Casa e destacou que, na última reunião, o secretário estadual de Saúde, Carlos Chaves, apresentou entraves para ampliar o número de leitos no estado. “A secretaria admitiu que há uma fragmentação do conhecimento desses leitos e que isso contribui na dinâmica do enfrentamento ao covid. É preciso ter um olhar atento e a comissão está disposta a ajudar”, finalizou.
Chaves voltou ao tema e explicou que a Regulação Única dos Leitos é a única solução para ter transparência sobre o número de vagas no Estado. Além disso, ele lembrou que o cadastro não é atualizado com frequência. “Num levantamento que fizemos, encontramos 300 leitos bloqueados. A desculpa é a falta de recursos humanos”, justificou.
Para o deputado federal Dr. Luizinho (PR), é possível abrir leitos com o que já existe de estrutura, mas seria necessário a ampliação dos exames de tomografia. “Sinto falta da ampliação do acesso a esse equipamento no Plano da Secretaria de Estado de Saúde”, disse. Para ele, os resultados do PCR demoram e a tomografia ajudaria nesse processo. “O grande projeto brasileiro é o da Fiocruz e acreditamos que podemos começar a vacinação no primeiro trimestre de 2021, mas precisamos nos organizar”, acrescentou.
Economia afetada
Segundo o diretor da Assessoria Fiscal da Casa, o economista Mauro Osório, com a covid-19 a situação do estado em relação ao desemprego é pior do que a do Nordeste. Quase 67 milhões de brasileiros estão recebendo o auxílio emergencial, que irá acabar em breve. “Como ficará isso? Me parece ser decisivo também pensar em uma medida que minimize os problemas nesse sentido. A pandemia agravou problemas econômicos sérios no estado”, alertou Osório.
Já para o economista Luiz Martins será preciso rever o teto de gastos para a economia do estado não piorar em 2021. “A mãe de todas as crises no Brasil se chama teto de gastos. Não haverá recursos se não flexibilizarmos o teto de gasto. A redução do auxílio emergencial afeta o comércio. Não vai ter demanda. O desemprego vai aumentar. 2021 será um ano de crise, mas junto com a crise da pandemia vamos ter uma enorme crise econômica, social e política”, concluiu