De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 90% das empresas no Brasil seguem o modelo familiar. São elas as responsáveis pela produção de 65% do Produto Interno Bruto (PIB) e dispõem de cerca de 75% da força de trabalho do País.
As empresas familiares estão majoritariamente concentradas no Sudeste. Segundo o estudo “Governança em Empresas Familiares: Evidências Brasileiras”, divulgado no começo de 2020, pelo IBGC e pela PwC: De 279 empresas familiares mapeadas, 159 estão na região Sudeste (57%); Na região Sudeste, 95 empresas familiares estão em São Paulo (34%); Na região Sudeste, 45 empresas familiares estão no Rio de Janeiro (16,1%); Na região Sudeste, 15 empresas familiares estão em Minas Gerais (5,4%);
De 279 empresas familiares mapeadas, 47 correspondem ao setor industrial (16,8%); 47 correspondem ao setor de serviços (16,8%); 32 correspondem ao setor de construção e engenharia (11,5%);27 correspondem ao setor do comércio varejista (9,8%);24 correspondem ao setor do agronegócio (8,6%);24 correspondem ao setor de bens de consumo (8,6%);11 correspondem ao setor de química e petroquímica (3,9%);10 correspondem ao setor do comércio atacadista e exterior (3,6%);10 correspondem ao setor de educação e ensino (3,6%); 9 correspondem ao setor de metalurgia e mineração (3,2%); 9 correspondem ao setor de tecnologia e telecomunicações (3,2%); 7 correspondem ao setor da saúde (2,5%); 7 correspondem ao setor de serviços financeiros (2,5%) e 15 correspondem à categoria “outros” (5,4%).
A faixa de faturamento anual dessas empresas, em distribuição da totalidade da amostragem de pesquisa, varia entre menos de R$ 20 milhões até R$ 400 milhões, o que mostra uma total capilaridade de oferta disponível. Empresas familiares locais, até os grandes conglomerados possuem seu espaço arterial para prosperar na economia brasileira.
O fato que chama especialmente atenção é a discrepância na amostra de empresas familiares brasileiras por tempo de existência. Enquanto a maioria (28%) possui menos de 25 anos, ainda uma grande parcela (21,9%) registra longeva vida: entre 50 e 75 anos.
São dados que refletem a ascensão de novos modelos de negócio, ao mesmo passo que respaldam o quão um bom e sólido planejamento estratégico pode ser eficaz para adaptar um negócio por décadas disruptivas.
Segundo a advogada Monique Bogado, especialista em Governança Corporativa e Familiar, os dados mostram que as empresas familiares são importantes para a economia do país:
“Esses dados mostram o quanto as empresas familiares são importantes mundialmente e como elas têm um peso importante na nossa economia e essa é uma das razões que precisamos propagar e divulgar a importância das empresas terem uma organização sólida, uma boa governança corporativa e documentos societários bem estruturados, senão, teremos um declínio gigantesco de empresas familiares no momento da passada do bastão de uma geração à outra”, comenta.
Mas na prática, apesar da confiança entre os envolvidos, diversos conflitos internos na questão de processos, gerência, dinâmica e até no relacionamento pessoal entre pais e filhos podem acontecer, trazendo aprendizados que podem ser usados como vantagens competitivas.
Mesmo sendo maioria, grande parte das empresas familiares não conseguem permanecer ativas por muito tempo. Cerca de 70% não sobrevivem à geração do fundador e apenas 5% chegam à terceira geração.
Os principais problemas enfrentados são:
· o apego e centralização excessiva de poder
· a sobreposição de papéis
· a dificuldade de reconhecer e trabalhar as próprias limitações pessoais
· a falta de um planejamento sucessório adequado encabeçam a lista
“E saibam: não é preciso ter uma empresa grande para aplicar a governança. Este processo é enriquecedor e grande aliado para empresas que querem atrair investidores, bons clientes e talentos e isso independe do tamanho da empresa”, orienta a advogada Monique Bogado.
A especialista pontua ainda que um acordo de sócios é fundamental em uma empresa familiar. E na maioria das vezes é negligenciado, e só é efetivado quando as divergências dentro da empresa começam, causando diversos problemas.
“O acordo de cada família é individual, único e precisa ser construído para cada família pois considera os valores de cada uma. Algumas matérias que podemos estipular no acordo: formas de recebimento de pró-labore e lucros, saída dos sócios, formas de pagamento do sócio remanescente, direito de preferência, não concorrência, regras de entrada de novas gerações, alçada de poderes e tempos de mandatos, regras de reuniões de diretoria e eventuais regras de conselhos consultivos, gestão, dentre outras matérias de acordo com cada caso”, finaliza Monique.