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Cirurgias plásticas íntimas e o impacto na qualidade de vida e autoestima feminina

Por Dr. Fabio Nahas, Cirurgião Plástico, Professor da Unifesp e Diretor Científico Internacional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica

No cenário mundial de cirurgias plásticas, o Brasil ocupa o topo do ranking, com mais de 1,3 milhões de intervenções realizadas anualmente, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS). Dentre as diversas opções de procedimentos que garantem uma melhora na autoestima, saúde e qualidade de vida das mulheres estão as cirurgias íntimas, que têm ganhado destaque nos últimos anos.

A crescente procura por esse tipo de procedimento sinaliza uma mudança nas percepções culturais e individuais sobre o corpo feminino, revolucionando o papel da sexualidade e sua independência na vida das mulheres. Desde os movimentos feministas dos anos 1970, em que as mulheres passaram a reivindicar seu espaço, não apenas na esfera pública, mas também no âmbito individual, até os dias atuais, observamos uma (r)evolução na forma como elas enxergam e sentem o prazer sexual, além da construção da autoestima e qualidade de vida atrelado a ele.
 

Nos últimos anos, estes procedimentos passaram a ser percebidos por uma ótica que vai muito além da estética, avançando rumo ao empoderamento, liberdade de escolha, e a inédita priorização da sua individualidade, desejos e, sobretudo, seu próprio corpo.
 

Entre os diferentes tipos de cirurgias íntimas, destacam-se a redução dos pequenos lábios (conhecida como ninfoplastia), aumento dos grandes lábios com enxerto de gordura, redução do prepúcio clitoriano (pele que recobre o clitóris), lipoaspiração na região pubiana e lifting pubiano. Somente em 2020, a ninfoplastia foi realizada por 20.334 mulheres no Brasil, conforme aponta a ISAPS e, desde 2013, o país mantém sua posição de destaque nesse cenário, com um crescimento significativo no número de procedimentos íntimos ao longo dos anos.

Benefícios além da estética

Embora a dimensão estética seja predominante nas pacientes que procuram por estes procedimentos, algumas técnicas também podem solucionar fatores funcionais, como dificuldades na higiene e desconfortos durante as relações sexuais, além de um impacto positivo na autoimagem, autoestima e sexualidade da maioria das mulheres submetidas à estas cirurgias, conforme avaliamos em estudos e no próprio consultório.
 

No caso do lifting pubiano, o estudo “Os efeitos da abdominoplastia na sexualidade feminina”, produzido por mim e outros profissionais da área, e publicado no The Journal of Sexual Medicine, aponta que, quando o lifting pubiano é realizado conjuntamente com a cirurgia plástica de abdômen, há melhorias significativas no estímulo clitoriano durante a relação sexual, uma vez que o clítoris é reposicionado 2 cm superiormente em relação ao seu local original devido à tração. Esta nova posição expõe o clitóris ao atrito durante a relação sexual – o que destaca mais um benefício do procedimento.

Como toda cirurgia, o profissional que indica alguma das citadas acima deve ponderar a idade e a condição da paciente. Em geral, as operações são feitas em pacientes adultas em diferentes fases de vida, desde a infância, caso haja uma indicação clínica e, principalmente, após os 40 anos ou gestações, uma vez que a perda de volume dos pequenos lábios ocorre geralmente neste período. Já o acúmulo de gordura na região pubiana pode ocorrer com alterações de peso ou após a menopausa. Portanto, as cirurgias íntimas femininas podem ser realizadas ao longo de toda a vida.

O período pós-operatório destas cirurgias plásticas exige que o paciente siga todas as instruções indicadas pelo profissional e contribui para o sucesso dos resultados esperados pela paciente. No geral, as pacientes podem retomar suas atividades cotidianas dentro de um intervalo de 1 a 2 semanas, variando de acordo com o tipo específico de cirurgia realizada. A liberação para a retomada da atividade sexual é estabelecida após aproximadamente 30 dias, assim como à prática esportiva. Entretanto, esportes que envolvem ciclismo e hipismo podem demandar um tempo adicional antes de serem completamente liberados. Essa precaução garante a segurança e o conforto das pacientes, permitindo uma recuperação gradual e adequada antes do retorno a atividades que possam exercer pressão ou atrito na região operada.

E o SUS?

Ainda que a idade da paciente não seja determinante para a realização da cirurgia, restrições legais relacionadas à cobertura de procedimentos estéticos pelo sistema público e planos de saúde podem restringi-las a um grupo específico da população.
 

A Lei nº 9.656/98 estabelece que as seguradoras não são obrigadas a cobrir procedimentos clínicos ou cirúrgicos para fins estéticos. Já no Sistema Único de Saúde (SUS), é preciso que haja uma avaliação profissional que comprove que o procedimento tem justificativa clínica, e não apenas estética. Hoje, apenas duas cirurgias íntimas são cobertas pelo SUS: a ninfoplastia (esta feita pelo cirurgião plástico) e a perineoplastia, para diminuição da flacidez na região, feita pelo ginecologista.

Assim, observamos que as cirurgias plásticas íntimas no Brasil não são apenas uma tendência, mas uma realidade consolidada. O país lidera em número e variedade de procedimentos, destacando-se não apenas pela busca da estética, mas também pela atenção e cuidado ao bem-estar das mulheres. Contudo, é crucial abordar essas intervenções com cautela, principalmente em espaços como a internet e as redes sociais, as quais devem ser decididas também com base nos impactos na saúde mental, autoestima e qualidade de vida das mulheres que optam por esses procedimentos.

Sobre Fabio Nahas

Com mais de 30 anos de carreira, Fabio Nahas é um dos cirurgiões plásticos mais renomados do país. Atual Diretor Científico Internacional da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, foi vice-presidente da ISAPS (Sociedade Internacional de Cirurgia Estética) e é especializado em Cirurgia Plástica e Reconstrutora.

Fabio Nahas é formado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com especialização em cirurgia geral e em cirurgia plástica pela USP. Realizou “fellowship” em cirurgia plástica na Universidade do Alabama, em Birmingham, nos Estados Unidos, tem Doutorado pela Faculdade de Medicina da USP e é Livre-Docente pela Unifesp / Escola Paulista de Medicina. Atualmente, se divide entre a clínica particular, na região da Avenida Brasil, em São Paulo, e a vida acadêmica. É Professor Orientador de Teses de Mestrado e Doutorado e Professor da Escola Paulista de Medicina (Unifesp). É também Editor Associado do Aesthetic Plastic Surgery Journal, órgão oficial de publicações científicas da International Society of Plastic Surgery (ISAPS).

O cirurgião conta com diversas contribuições científicas, com mais de 400 publicações, artigos e estudos na área de atuação. Nahas tem seis livros publicados e realizou conferências e cirurgias em 33 países, em universidades como New York University, Universidade de Pittsburgh, Universidade da Califórnia em São Francisco, Clínica Mayo, Universidade de Toronto, entre outras.