Com transmissão ao vivo pela internet, da qual participarão os músicos Nando Reis e Allyson Mariano, será lançada a música inédita Ouçam Nossas Vozes, tema da campanha com o mesmo nome, cujo objetivo é dar apoio a pacientes com esquizofrenia e derrubar o preconceito contra a doença.
O lançamento será hoje (17), às 20h, pelo Instagram da empresa Janssen, da Johnson & Johnson, idealizadora da campanha.
A canção foi composta por Allyson Mariano, artista diagnosticado com esquizofrenia aos 27 anos, e tem arranjo de Nando Reis. O coro contra o preconceito e para acolhimento a pessoas com o distúrbio conta com o ator Babu Santana, a youtuber Hana Khalil, além de profissionais de saúde, representantes de associações de pacientes, cuidadores, entre outros.
A campanha é apoiada pelo Programa de Esquizofrenia (Proesq), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia (Amme); da Associação Crônicos do Dia a Dia (CDD); e da Associação Gaúcha de Familiares e Pacientes Esquizofrênicos (Agafape).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a esquizofrenia é a terceira doença que mais afeta a qualidade de vida na população de 15 a 45 anos de idade. Estudos médicos mostram, por outro lado, que entre 40% e 71% dos pacientes não seguem corretamente o tratamento. Essa situação tende a se agravar na pandemia do novo coronavírus, afetando seriamente a qualidade de vida do doente e da família.
Mistura
Allysson Mariano sentiu-se honrado com o convite para participar da campanha. Falando à Agência Brasil, o artista revelou que a canção Ouçam Nossas Vozes, que compôs especialmente para o evento, “é uma mistura, buscando de forma mais plena a percepção de uma pessoa que é portadora de esquizofrenia, e um pedido direto para que possamos vencer a barreira do preconceito, da falta de entendimento, da falta de empatia, com a união. É uma forma bem direta, trazendo essa percepção e esse pedido”, informou Mariano.
Com 36 anos, ele conta que foi diagnosticado em 2012. “Em 2012, foi verificado que eu tinha [o transtorno], desde os 5 anos de idade”. Mariano aprendeu a ler e escrever sozinho, aos quatro anos de idade, em casa. Aos oito anos, começou a tocar piano e se interessou pela música.
Desde os cinco anos de idade, sentia que tinha algo diferente. Aos 14 anos, ele compôs sua primeira canção. Durante 23 anos, buscou uma avaliação médica correta, sem sucesso. “Apesar de terapias, nada fechava o diagnóstico”, comentou o músico. Começou então a escrever canções sobre suas experiências. Em 2012, porém, teve finalmente a orientação de como deveria ser seu tratamento.
Allyson Mariano conta que, com tratamento, uma pessoa diagnosticada com esquizofrenia consegue lidar com suas limitações. Atualmente, ele tem uma banda de rock voltada para a música internacional, que está finalizando a masterização de seu primeiro EP (gravação em disco de vinil, formato digital ou CD) de quatro músicas, todas de autoria de Mariano, que pretende lançar “o mais breve possível”.
Segundo o músico, sua participação na campanha visa promover dias melhores para aqueles que sofrem de esquizofrenia. “Quero que percebam que eles podem se realizar”, concluiu.
Doença mental crônica
De acordo com a Secretaria de Atenção Primária à Saúde (Saps), do Ministério da Saúde, a esquizofrenia é uma doença mental crônica que afeta cerca de 1,6 milhão de brasileiros. A Saps esclarece que a esquizofrenia é caracterizada pela dissociação do que é real e o que é imaginário por parte do indivíduo, que pode sofrer de alucinações, com alterações da percepção de “ouvir vozes”, ter visões e sensações que outras pessoas não têm; e delírios, ou crenças, que não são compartilhados por outras pessoas, mas que parecem reais para o paciente. Esses delírios e alucinações podem impactar o comportamento da pessoa no dia a dia e dificultar o relacionamento interpessoal.
Este é o terceiro ano consecutivo da campanha. O cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor musical brasileiro Nando Reis, ex-membro da banda Titãs, afirmou que quando recebeu o convite para fazer parte da campanha, não hesitou. “Aceitei imediatamente com alegria e senso de humanidade”.
Para Nando Reis, “todo tipo de estigma é uma redução, uma condenação e preconceito fruto de desinformação. Maledicências que podem ter consequências gravíssimas na vida de uma pessoa”.
O coordenador-geral do Programa de Esquizofrenia da Unifesp, psiquiatra Ary Gadelha, comentou sobre a importância do tratamento. “Além do estigma e da dificuldade para diagnosticar a esquizofrenia, a falta de adesão ao tratamento é um dos principais desafios para a recuperação das pessoas que vivem com a doença, pois, quando não tratada corretamente, ocasiona recaídas que agravam o quadro”.
Evolução
O psiquiatra Jorge Antonio Jaber Filho, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), destacou que, hoje em dia, a medicação evoluiu muito em termos de controle da doença, trazendo efeitos colaterais praticamente nulos. “Realmente, o quadro geral da esquizofrenia melhorou muito. A perspectiva e a qualidade de vida melhoraram muito, em vista das limitações que a doença impunha”, disse à Agência Brasil.
Ele esclareceu que a doença não é somente comportamental ou de alteração do pensamento, mas também modifica fisiologicamente o cérebro. Em muitos casos, o paciente tem uma alteração cognitiva e pode perder a capacidade intelectual.
Jaber Filho conta que, atualmente, vários remédios são fornecidos pela rede do Sistema Único de Saúde (SUS), o que facilita o tratamento para doentes de menor poder aquisitivo. Segundo o psiquiatra, a vigilância sanitária teve um papel muito importante na pandemia ao permitir que as receitas médicas fossem feitas para três meses. Além disso, a a possibilidade de consultas à distância, via internet, também permitiu que pessoas diagnosticadas não interrompessem o acompanhamento.
O professor da PUC Rio esclareceu que fatores genéticos e intrauterinos têm grande importância para o diagnóstico da esquizofrenia. Dificilmente a doença se manifesta depois de 30 anos de idade. Em geral, os primeiros sinais e sintomas aparecem por volta dos 15 aos 25 anos de idade, em decorrência da interação de múltiplos fatores, sejam de origem genética ou ambiental como, por exemplo, o uso de drogas. Mas podem aparecer na infância, inclusive.
Não há marcadores biológicos que identifiquem que uma pessoa tem esquizofrenia. Ou seja, não existe nenhum exame laboratorial ou de imagem que identifique a doença. O diagnóstico é definido por um médico após avaliação do quadro clínico do paciente.