Segundo o texto, os registros do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) apresentam um número substancial de informações incompletas, “o que compromete seriamente qualquer análise sobre a efetividade das vacinas para impedir a hospitalização e/ou a morte dos pacientes vítimas do [novo] coronavírus”.
A nota técnica avaliou o percentual de casos de SRAG registrados em que a unidade de saúde informou os seguintes dados ao Sivep-Gripe: se o paciente recebeu vacina contra covid-19, quando recebeu cada dose, o lote de cada dose, e se o dado foi digitado manualmente ou recuperado por meio de integração com a Rede Nacional de Dados em Saúde. Foram considerados os casos notificados entre abril e 25 de agosto deste ano.
Fragilidade
O texto destaca, ainda, que a “enorme incompletude de informação” no sistema torna “extremamente frágil qualquer afirmação sobre efetividade dos imunizantes em casos de hospitalização ou óbitos”.
Segundo o estudo, a informação sobre a vacinação foi preenchida como “ignorada” em 35% dos hospitalizados. Em Roraima, Maranhão, Pernambuco, Maranhão, Espírito Santo, Ceará, Bahia e Alagoas, cerca de 60% dos dados de hospitalizados não possuem informação sobre vacinação.
Diante desse cenário, os pesquisadores afirmam que inferências sobre a efetividade das vacinas com base nos dados de hospitalização do Brasil disponibilizados em bancos públicos exigem extrema cautela em sua análise.
Motivos
Um dos responsáveis pelo estudo, Diego Xavier, especialista em Saúde Pública da Fiocruz, aponta alguns dos motivos que causam a falta de dados. “As equipes de Saúde na linha de frente, tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) quanto na rede privada, estão sobrecarregadas, operando no limite há muitos meses, e podem estar enfrentando diferentes dificuldades para o lançamento desses dados, desde a ausência de treinamento até a falta de tempo em meio ao atendimento acima do normal”, afirma Xavier, em texto divulgado, no Rio de Janeiro, pela Fiocruz.
Outro obstáculo é o modo de captura dessa informação, que muitas vezes depende de o usuário apresentar o cartão de vacinação na unidade hospitalar. O ideal, aponta a nota técnica, é a integração das bases de dados de vacinação com as bases de dados de hospitalização e notificação de casos, o que tornaria as informações mais confiáveis.
Apesar dos problemas frequentes no preenchimento das informações, a nota técnica indica que algumas unidades de saúde conseguiram implementar um preenchimento de dados mais adequado e podem ser usadas como unidades sentinela no monitoramento da pandemia.
No longo prazo, a Fiocruz recomenda entender como esses bons exemplos se estruturam e quais lições podem auxiliar a criação de protocolos e rotinas que podem ser disseminadas para as demais unidades de saúde de acordo com suas realidades.