Levantamento mostra números da discriminação das mulheres negras e pardas durante o tratamento do Câncer de Mama

Diário Carioca
Câncer de Mama - Imagem Reprodução

A luta contra o câncer de mama por si só já é árdua, pois são muitas as incertezas, as dificuldades e o medo enfrentados pela paciente acometida por essa doença, que é a segunda maior causa de morte da mulher brasileira. No intuito de entender o que essas mulheres enfrentam, a Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional do Rio de Janeiro, em parceria com o Instituto Nosso Papo Rosa, está realizando um levantamento para traçar esse perfil. O primeiro recorte já compilado é sobre as mulheres negras e os resultados acendem uma luz amarela que deve ser monitorada.

De acordo com a Dra. Maria Júlia Calas, presidente da SBM – Rio de Janeiro, o fato merece atenção devido aos relatos colhidos até aqui. Segundo ela, o estudo até o momento ouviu cerca de 200 mulheres, das quais cerca de 40% se reconhecem como pretas ou pardas, sendo elas da faixa etária entre 45 e 65 anos (70%). Destas, em torno de 20% já se sentiu discriminada por causa da sua raça ou etnia durante o tratamento. “O levantamento ainda está em curso, porém nos impactou, pois é um momento de total fragilidade da mulher e essa possibilidade, sequer, deveria existir”, afirma a presidente indignada e chamando a atenção para o fato de 10% não terem certeza se o que passaram foi discriminação ou preconceito. “Em verdade, não é garantia que as quase 70% que afirmaram nunca ter se sentido discriminadas, realmente não tenham sido, pois, como sabemos, o racismo estrutural está impregnado em nossa sociedade”, reflete.

Segundo ela, o levantamento, realizado junto aos serviços de mastologia público e privado, já está sendo ampliado, pois o intuito é ouvir o máximo de pacientes, traçando um raio x do perfil das pacientes de um modo geral, com olhar especial para a população negra e também do público LGBTQIA+. “Sim, temos alguns vieses que precisam ser melhor assistidos. O racismo mata tanto quanto o câncer. Da mesma forma o preconceito. Por isso, negros, homossexuais e o público trans merecem uma atenção igualitária”, afirma.

Falando um pouco mais da pesquisa, a Dra. Sabrina Chagas, do Instituto Nosso Papo Rosa, diz que mais de 60% das entrevistadas afirmam ter tido como as principais barreiras enfrentadas para se tratar o medo da doença e o que vem pela frente durante o tratamento, o que para a doutora é natural. “Receber a notícia do diagnóstico é sempre impactante, não tenha dúvida. Mas é preciso que a mulher saiba que há muita vida após o câncer, principalmente quando diagnosticado precocemente”, alerta, acrescentando que 40% apontaram as questões econômicas como barreiras. Mais de 43% deixaram o trabalho após o diagnóstico

A autoestima também é algo que sempre preocupou. Cerca de 40% também afirmaram que esse fator se apresentou como uma barreira para seguir em frente no tratamento, sendo que 30% deixaram de ter convívio social e 25% pararam de praticar atividade física. “Não é fácil para a mulher, principalmente aquelas que não tem uma rede de apoio”, aponta a mastologista, dizendo que no levantamento mais de 45% foram diagnosticadas na faixa entre 40 e 50 anos, portanto, pessoas jovens e ativas. “Embora não haja estatísticas precisas, sabemos que muitas delas são abandonadas pelo companheiro”, conclui.

O tema das mulheres negras e do público LGBTQIA+ serão abordados no Simpósio Internacional de Mastologia (SimRio 2023) que acontece de 22 a 24 de junho, no Prodigy Hotel, no Rio de Janeiro, reunindo médicos de todo o país e do exterior, como mastologistas, oncologistas, radiologistas, entre outros.

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Equipe de jornalistas, colaboradores e estagiários do Jornal DC - Diário Carioca