As redes sociais promoveram profundas mudanças no cotidiano coletivo desde suas primeiras tentativas no início dos anos 2000. Os avanços tecnológicos que seguiram, da chegada de internet rápida até os smartphones que cabem no bolso e possuem câmeras de alta definição, mudaram e adaptaram a ideia das redes sociais diversas vezes.
Atualmente, nos acostumamos com redes sociais baseadas em linhas do tempo algorítmicas como o Facebook e Twitter, geralmente incluindo algum recurso para compartilhamento de vídeos curtos e direto ao ponto como o TikTok e stories no Instagram, e mensageiros instantâneos como o WhatsApp fazem grande uso dos grupos e encaminhamento de mensagens. Para muitos pesquisadores, uma das principais marcas deixadas nas gerações modernas é com qual idade usaram as redes sociais pela primeira vez e quais redes e aplicativos moldaram sua adaptação. De acordo com a ExpressVPN, crianças com apenas quatro anos hoje já crescem usando apps no celular, por isso, muitas críticas têm sido levantadas a respeito dos efeitos cognitivos e comportamentais de plataformas como o TikTok e Instagram – mas será que podemos buscar no passado, nas redes sociais que dominavam o mercado brasileiro no começo da inclusão digital, os segredos para um equilíbrio saudável entre tecnologia e sociedade? Relembre conosco a jornada do MSN e Orkut.
Mensagens instantâneas – mas nem sempre
Desativado e em grande parte esquecido, o programa de mensagens instantâneas da Microsoft, o Windows Live Messenger, carinhosamente apelidado de MSN pelos brasileiros, foi o grande ponto de mudança na inclusão digital do país. Embora plataformas anteriores tenham obtido algum sucesso inicial, como o mIRC, a grande quantidade de recursos adicionais do MSN, facilidade de uso, e associação com o Microsoft Windows fizeram com que a plataforma se tornasse campeã de aceitação no país.
Os recursos oferecidos pelo programa eram impressionantes quando consideramos sua data de lançamento, e alguns ainda não existem em apps populares da atualidade como o WhatsApp e Telegram. O MSN permitia chamadas ao vivo via webcam, jogos interativos em tempo real como xadrez, emoticons customizáveis, envio de GIFs e fotos, personalização do nome e status, indicação de qual música o usuário estava ouvindo, entre milhares de outros recursos para organizar grupos e amigos. De fato, algumas de suas opções envelheceriam mal e seriam descartadas como terríveis pelos padrões modernos: era possível “chamar a atenção” de outra pessoa, recurso que tocava um som alto no computador e vibrava a tela – a qualquer momento.
No entanto, é possível extrair algumas lições muito valiosas da época do MSN. A principal é a separação do “tempo conectado” versus “tempo offline”. Atualmente estamos acostumados ao celular sempre conectado e recebendo mensagens, no entanto, o MSN era um programa que precisava ser propositalmente aberto no computador – geralmente exigindo que o usuário deliberadamente ativasse sua conexão com a internet – isso significa que frequentemente abríamos nossa lista de contatos e víamos muitas pessoas offline. Esse tempo offline nos permitia refletir antes de enviar mensagens, muitas vezes escolhendo outros momentos, e dava ao usuário o direito de desconectar – o gerente do trabalho, paquera conhecida a pouco tempo, colegas de faculdade, não tinham a expectativa de que você sempre estaria disponível para responder imediatamente às mensagens, problema que está afetando a saúde mental de muitos usuários de apps como o WhatsApp nos dias atuais e, em alguns casos, mudando a legislação trabalhista de alguns países.
Uma rede social que não te controla
Responsável por horas gastas em lan houses em todo o país, e para muitos, a primeira interação com a internet, o Orkut foi a primeira rede social a tomar conta do Brasil. Na verdade, por alguns anos, era mais comum perguntar o nome do Orkut de um novo conhecido do que seu telefone.
Esse sucesso não é sem motivo, já que apesar de pioneira, a rede social apresentava todas as bases necessárias para um perfil online: álbuns de fotos publicadas pelo usuário, sistema de amigos, e grupos criados por usuários para criação de tópicos de discussões. No entanto, apesar de suas similaridades com redes atuais, o Orkut possuía diferenças que mudavam completamente sua interação com os usuários.
A primeira grande diferença está na ausência de um feed – ao abrir o site, usuários não se depararam com uma sequência infinita de postagens escolhidas por um algoritmo. Não existia, ainda, a ideia de “continuar rolando a página” até ficar entediado. Ao abrir o Orkut, cada pessoa fazia a escolha deliberada de acompanhar o perfil de alguém, navegar pelas publicações de uma comunidade favorita, responder comentários em fotos, ou explorar os recursos sociais como os depoimentos.
Depoimentos são, por si só, outra grande diferença do Orkut – não havia, à princípio, sistema de mensagens privadas. Era possível enviar uma mensagem atrelada ao pedido inicial de amizade, ou então, mensagens públicas denominadas “depoimentos” que ficavam exibidas no perfil do recipiente. Isso significa que ao escrever um recado, era importante garantir que as informações pudessem ser vistas por todos os amigos de quem recebia.
Esses sistemas, aliado aos mecanismos que controlavam as comunidades, faziam do Orkut uma rede mais transparente e direta. Os usuários escolhiam com clareza o que queriam consumir naquele dia, e se preocupavam com a privacidade pessoal e de amigos, ao invés de serem movidos a continuar usando a rede indefinidamente por um algoritmo inteligente.
As redes sociais modernas oferecem muitas vantagens e conveniências, mas também possuem mecanismos predatórios que transformam nossa relação com a tecnologia de forma negativa. Ao passo que novas gerações crescem conhecendo apenas os apps modernos, é interessante relembrarmos das plataformas que começaram tudo isso e quais lições elas deixaram em nossa história digital.